A Vila Torres, onde seis pessoas ficaram feridas no domingo: moradores pedem a presença do estado| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

Solidariedade tenta mudar a vida na região

Na Vila Torres há muita solidariedade, para além da violência e dos tiroteios. A região se tornou conhecida por seus diversos líderes comunitários que tentam transformar a vila em um lugar melhor. Uma dessas pessoas é a aposentada Arminda de Faria de Oliveira. Ela vive na comunidade há 35 anos e é responsável por grande parte dos serviços de urbanização que ocorreram nas últimas décadas. Quando chegou lá, havia apenas mais cinco casas construídas, de lona e papelão, e nenhuma rua. Ela foi a primeira presidente do conselho de moradores. Eles montavam mutirões para melhorar a estrutura das moradias e abriram boa parte das ruas com enxadas. Hoje, o cotidiano deles é muito diferente dos tempos em que só havia duas torneiras para fornecer água a todas as famílias. Juntos trouxeram água encanada e luz. "Quando a Cohab veio delimitar os lotes, já estava tudo certo", diz a aposentada.

Leia a matéria completa

CARREGANDO :)

Polícia prende três suspeitos do tiroteio

Policiais da Delegacia de Homicídios prenderam ontem três suspeitos de envolvimento no tiroteio de domingo na Vila Torres, que deixou seis pessoas feridas. Outros quatro suspeitos estão sendo procurados pela polícia. Segundo as investigações, eles teriam envolvimento com o tráfico de drogas – cada um dos lados da vila, re­­partida pela Rua Gua­bi­rotuba, seria dominado por um grupo de traficantes.

Leia a matéria completa

Publicidade

Anunciado há um ano pela Po­­lícia Militar (PM), o Programa Se­­gurança Social, que aproxima a polícia da comunidade em áreas carentes, com o apoio de entidades sociais que ajudam no desenvolvimento dos moradores, segue sem data definida para ser implantado na Vila Torres, no bairro Prado Ve­­lho, em Curitiba. De acordo com a PM, os policiais que participarão do projeto já foram treinados para fazer o policiamento comunitário. Entretanto, eles não sabem quando passarão a atuar na Vila Torres.

Na tarde do último domingo, a vila foi palco de um tiroteio entre grupos de traficantes rivais que deixou seis feridos. Um menino de 11 anos e um adolescente de 15 estão internados no Hospital Ca­­ju­­ru. No Evangélico está Marcio de Oli­­veira Correia, 20 anos, que le­­vou dois tiros na nuca quando passava de carro pela esquina das ruas Guabirotuba e Sérgio Dudeck, próximo ao portão 3 da Pontifícia Universidade Católica, onde, no momento do incidente, acontecia o vestibular da Universidade Federal do Paraná. Os três seguem estáveis, mas sem previsão de alta.

Se estivesse em ação, o Segu­rança Social – cuja implantação na Torres foi anunciada pela PM na operação policial de novembro de 2008, em que o secretário estadual de Segurança Pública, Luiz Fer­­nan­­do Delazari, chegou a sobrevoar a área de helicóptero –, talvez a realidade hoje fosse outra. O exemplo está na Vila Osternack, no Sítio Cercado, onde o Segurança Social está em ação desde dezembro. De lá para cá, o índice de homicídios na região, um dos mais altos da cidade, com até 14 mortes em um único fim de semana, caiu para a média de um por mês.

Em setembro, quando a reportagem foi conhecer o programa, havia dois meses que ninguém morria assassinado no Osternack. A estação-tubo do bairro, até então a mais assaltada de Curitiba, nunca mais foi alvo dos criminosos. Tudo por conta da aproximação gerada entre os moradores e a PM.

Antes da implantação da polícia comunitária, as polícias Militar e Civil tiraram de ação as principais lideranças do crime no Oster­­nack. Com isso, a PM agregou 45 instituições parceiras do Seguran­­ça Social. São repartições públicas, empresas, igrejas e associações de moradores que colaboram em ações sociais como capacitação profissional, emissão de documentos e entrega de alimentos.

Publicidade

Segundo moradores, hoje não existe policiamento comunitário na Vila Torres. "As viaturas até passam, mas a população não tem con­­tato com os policiais. Eu mesmo não sei o nome dos policiais que trabalham aqui", diz a aposentada Arminda de Faria de Oliveira, 60, que mora há 35 anos na Torres e teve um filho vítima da violência.

Para o eletrotécnico Marcos Eriberto dos Santos, 38 anos, presidente da Associação de Moradores, o maior problema na comunidade não é a violência, mas o estigma. "Aqui somos invisíveis. Quem passa na Avenida não nos vê. Enquan­­to as autoridades acharem que vão resolver a segurança pública com policiais, a situação não vai melhorar. Não precisamos só de polícia, mas de políticas eficazes."

O assistente social Adilson Pe­­rei­­ra de Souza, que criou um projeto que atende 50 crianças da re­­gião, acredita que a discussão so­­bre a implantação da polícia co­­munitária tem de ser feita com a comunidade o quanto antes. "As pessoas têm medo da polícia. É preciso participação para funcionar".