Passados nove meses da implantação da Área Calma, a prefeitura de Curitiba ainda não realizou nenhuma ação de fiscalização com radar móvel na região. A adoção desse tipo de fiscalização era uma promessa da administração municipal, mas o monitoramento do respeito ao limite máximo de 40 Km/h tem sido feito exclusivamente por 22 radares fixos e pelos agentes de trânsito. Apesar disso, 113.054 multas já foram aplicadas desde novembro do ano passado e o projeto já apresentou os resultados que dele se esperava: o número de acidentes caiu quase 30%.
A prefeitura afirma que os radares móveis não entraram em operação na Área Calma porque o remanejamento dos 16 fixos (eles se somaram aos 6 que já estavam na região) teriam sido suficientes para fazer a fiscalização na região. Devido ao custo, a prefeitura hoje tem apenas dois desses radares. Eles são utilizados em esquema de rodízio nas Vias Calmas (avenidas Sete de Setembro e João Gualberto), em frente a escolas e nas faixas exclusivas de ônibus.
As multas na Área Calma vêm caindo gradativamente. Em janeiro de 2016, foram 18.404 autuações para um volume médio diário de 289.240 veículos. Em junho, esses números caíram para 9.533 autuações para um volume de 339.459 veículos. E a queda se acentuou no mês passado: 9.900 autuações para uma média de 294.993 veículos. O cruzamento com mais autuações é o da Rua André de Barros com a Rua João Negrão.
Acidentes
Procurado pela reportagem nesta segunda-feira, o BPTRan informou que precisaria de uma semana para tabular os dados dos acidentes registrados na Área Calma nesses primeiros nove meses do projeto. Entretanto, reportagem publicada pelo portal G1 no último mês de maio com dados da Polícia Militar mostrou que houve redução de 28,8% dos acidentes registrados na Área Calma nos primeiros seis meses da implantação do novo limite de velocidade nessa região. Foram 187 acidentes entre 16 de novembro de 2015 e 16 de abril de 2016 contra 263 nos seis meses anteriores à implantação do projeto.
Para a secretária de Trânsito Luiza Simonelli, esses dados revelam uma aceitação do projeto pelo curitibano. “O curitibano é receptivo a ideias novas. A exemplo de Curitiba, Nova York também tem implantado suas áreas calmas. Houve uma reação negativa em um primeiro momento, mas hoje temos dados extraordinários. Não tiramos a área calma da cartola, foram 24 óbitos nos últimos três anos nesses 140 quarteirões. Então era necessário reduzir. De lá para cá, não tivemos nenhum óbito e nenhum acidente grave”.
Sobre a ausência dos radares móveis, a secretária reafirmou que a situação não tem relação com a pouca quantidade desses equipamentos na cidade. Mas a prefeitura planeja a realização de uma licitação para a compra de novos radares, conforme determinou o Tribunal de Contas do Paraná no último mês de fevereiro.
Motos
Segundo o engenheiro civil e mestre em Engenharia de Transportes pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), Sérgio Ejzenberg, a ausência do radar móvel traz prejuízo à fiscalização de motocicletas. “Como os motociclistas geralmente andam nos corredores, a tecnologia atual dos radares físicos não capta como deveria esses veículos. Mas claro que a operação desses equipamentos têm de vir precedida de uma campanha educativa”.
A secretária de Trânsito do município reconheceu que uma parcela pequena dos motociclistas conhece artifícios para burlar o radar fixo ao trafegar sobre a parte asfáltica que não é coberta pela fiscalização. Ela ressaltou, entretanto, que prefere não generalizar esse comportamento. “Acredito, primeiramente, que as pessoas são de boa fé”, afirmou.
Os dados da Setran sobre a Área Calma ainda não estão separados por categoria do veículo. Mas os motociclistas são disparados os que mais são vítimas de acidentes de trânsito. De acordo com a Seguradora Líder, responsável pelos pagamentos do DPVAT, 497 mil indenizações foram pagas em 2015 a acidentes com motos – 76% do total. Ao mesmo tempo, as motocicletas representam apenas 30% da frota circulante nacional. Curitiba, apesar disso, vem registrando ano a ano queda no número de mortes no trânsito. Entre 2010 e 2015, a redução geral foi de 42,5% – passando de 320 óbitos para 187. Entre motociclistas, porém, a queda foi menor: 28% (passou de 78 óbitos em 2010 para 56 no ano passado).
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