A promotora substituta da 2ª Vara Criminal, Luciana Marcos Esteves, disse nesta terça-feira estranhar as contradições entre os depoimentos das principais testemunhas da prisão de Alexandre Oliveira Pontes, ocorrida no dia 21 de fevereiro. Alexandre, que é surdo-mudo, foi preso após comprar um achocolatado em uma loja de conveniência na Avenida Duque de Caxias (centro). Ficou 13 dias na prisão e ganhou a liberdade provisória na segunda-feira, dia em que completou 20 anos de idade.
O proprietário da loja de conveniência, que acionou a polícia, acusa o rapaz de ter insinuado um assalto, o que ele nega. Já a funcionária, que atendeu o Alexandre, disse que tudo não passou de um mal-entendido. Para a promotora, que ofereceu a denúncia por tentativa de roubo, as duas versões deverão ser esclarecidas durante o julgamento. "Existem diferenças gritantes entre as declarações das duas pessoas que afirmam que estavam lá", apontou.
Depoimentos
A reportagem do Jornal de Londrina teve acesso às declarações das testemunhas e confirmou as diferenças. O proprietário disse que o rapaz entrou na loja, pegou um suco na prateleira e dirigiu-se ao caixa. Ele teria levantado a camiseta mostrando um objeto na bermuda e gesticulado estar armado. O assalto não teria prosseguido, conforme ele, em razão do movimento da loja.
O depoimento da funcionária, dado uma semana após a prisão, relata que Pontes entrou em silêncio e foi até a prateleira pegar um achocolatado. Ele então se dirigiu ao balcão e pagou pelo produto, sem fazer nenhum gesto. Em seguida, um cliente que estava na loja teria dito que viu um volume na camiseta do rapaz e comentado com as funcionárias que elas teriam acabado de se livrar de um assalto. O proprietário teria ouvido a conversa e saiu atrás de Alexandre, em companhia de um segurança do posto de combustível ao lado.
"Essas pessoas precisam ser colocadas para darem seus testemunhos de frente para o juiz ou mesmo em uma acareação", afirmou a promotora. O processo já foi concluído e nos próximos dias deve ser escolhido o juiz que fará a análise. Antes de dar início ao julgamento, o juiz ainda pode decidir encerrar, caso não acate a denúncia do MP.
Luciana Esteves disse também avaliar que não houve irregularidade na prisão de Alexandre. O questionamento foi feito pela presidente do Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência, Martinha Claret, que alegou que o rapaz, por ser surdo, precisava de um intérprete para sua defesa. No entanto, no ato da prisão, Pontes declarou por escrito que somente iria se pronunciar em juízo. "A partir desse contexto, ele não precisava responder mais nada e permanecer em silêncio."
O JL tentou falar com o dono da loja, mas ele não foi localizado.
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