Estamos às vésperas das eleições municipais, candidatos aos montes e todos correndo atrás de eleitores e de seus votos. Quem, como eu, que já fui candidato, sabe quanto custam certos votos. "Voto em você se me arranjar um caminhão de terra para aplainar meu terreno!" Ou então: "Lá em casa são oito votos que serão seus, mas preciso de um emprego pra minha filha!" E assim vai indo a campanha, o candidato quer ser eleito e alguns eleitores querem benesses.
Óculos, dentadura, cadeira de roda, material de construção, emprego; a variedade de propostas são as mais esdrúxulas de se imaginar. É o velho escambo, o pagamento de favores, que geralmente não serão efetivados. O candidato promete mundos e fundos e não cumpre, contrabalançado pelo eleitor ardiloso que vendeu seu voto para vários postulantes e acaba consagrando o primeiro santinho que juntar na calçada em frente da sua seção eleitoral. É a famosa lei da compensação.
O magote de pretendentes a uma vaga na Câmara de Vereadores é impressionante. Todos querem salvar a cidade e seus cidadãos e logicamente garantir uma gorda remuneração pelos serviços prestados ao povo; afinal de contas, ninguém é de ferro. Coisa impressionante, como tem gente que não se importa com a corrupção; apesar dos escândalos recentes, o volume de candidatos aumenta, tal qual um ajuntamento de formigas num pote de mel ou mesmo um bando de moscas em cima de coisa menos cheirosa.
A cidade está cheia de problemas: transporte coletivo, postos de saúde, traficantes de drogas, jogo do bicho, vias fedendo a esgoto, ruas esburacadas, calçadas ameaçadoras, rios poluídos e condutores de materiais putrefatos com infestação de ratos e ratazanas. Nada disso sensibiliza quem comanda a prefeitura. O grande mote da campanha é a Copa de 2014, o metrô e outras maravilhas anunciadas à boca cheia, como se todos fossem estúpidos portadores de um documento que permite colocar no poder o maior mentiroso que se apresentar.
Ratos, libélulas balofas e até bocas-moles se apresentam como candidatos; sendo, entretanto, meras marionetes ou mesmo laranjas de astutos detentores de poder. É como emprestar dinheiro para comprar um laranjal e esbanjá-lo em jogo de carteado, tudo acaba virando num suco azedo que o povão tem de engolir.
A maneira de escapar desse chorrilho é fazer uma viagem ao passado, quando a corrupção não era tão exacerbada. Vamos visitar outros tempos, aqueles do fio do bigode, de amarrar cachorro com linguiça, quando o bonde era a melhor condução e o consumismo não existia, tempo em que o povo vivia a vida que Deus lhe dava, sem preocupar-se em comprar um lugar no Céu. Vamos ao passado de Curitiba através de velhas fotografias, onde, talvez na aparência, as coisas eram melhores e a ganância afetava pouca gente.
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