A importância da atuação de Wilson Martins pode ser medida por meio do depoimento do escritor gaúcho Moacyr Scliar. "Wilson Martins foi, para a minha geração literária, uma referência importante, decisiva mesmo. Um crítico literário conhecido por seu rigor, por sua honestidade, e por uma cultura verdadeiramente enciclopédica", afirma Sclyar, autor de mais de 70 obras.
Sclyar, mesmo quando era um estreante, sabia o que representava ser elogiado por Martins. Um texto do crítico, favorável a uma obra, fazia do livro em questão, mais que visível, leitura obrigatória.
E isso aconteceu com Sclyar. O primeiro livro de gaúcho, O Carnaval dos Animais, publicado em 1968 com uma pequena tiragem, pela Editora Movimento, de Porto Alegre, chegou, nem Sclyar sabe como, nas mãos de Martins. E o crítico escreveu um artigo altamente elogioso, em sua famosa coluna do jornal O Estado de S. Paulo.
"Para mim, foi como se tivesse ganho o Nobel, tal a alegria que aquele texto me deu. Anos depois, nos Estados Unidos, tive o prazer de conhecer Wilson Martins: ele me convidou para debater com seus alunos na universidade, o que, de novo, foi algo muito gratificante" afirma, comovido, Sclyar, que ainda acrescenta: "Em Wilson Martins a dignidade pessoal e a dimensão intelectual equivaliam-se em importância. Ele deixou uma marca indelével na cultura brasileira."
De outro lado, não ser mencionado por Martins equivalia, e ainda equivale (se levarmos em conta os livros que reúnem os artigos dele), a não exisitir (pelo menos no mundo cultural). E o crítico, a comunidade literária reconhece, manteve durante toda a sua postura saudável: não fazia parte de grupos, não se ligava a "panelas" e jamais aceitou integrar, por exemplo, a Academia Brasileira de Letras (ABL). "O crítico precisa ter autonomia, para falar o que for necessário, quando for necessário", costumava repetir Martins.
O poeta Affonso Romano de SantAnna acredita que a História, que é o melhor juiz, está ao lado do crítico. "A obra de Wilson Martins crescerá com o tempo. O presente, embaralhado nas limitações e mesquinharias da vida literária, não teve condições de lê-lo com a objetividade que merece. Por não pertencer a grupos estético-ideológicos, por não fazer a vida literária, por ter um temperamento retraído e ter vivido muitos anos fora do país não estabeleceu o sistema de alianças que conduz tantos ao protagonismo cultural", afirma SantAnna.
A tese de SantAnna, que defende que o futuro reserva um espaço nobre para o legado do crítico, é endossada pelo crítico André Seffrin: "Sua obra é uma síntese de nossa história intelectual, infelizmente ainda subestimada. Creio que escreveu para o futuro, para as novas gerações de brasileiros, uma vez que foi um dos poucos historiadores que pensaram o Brasil de maneira ampla e orgânica", afirma Seffrin.
Editoras anunciam reedições de livros do crítico
A monumental História da Inteligência Brasileira (que está esgotada) vai ser reeditada pela Editora da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). O adjetivo (monumental) se justifica, até demais: são sete volumes (cada um de 700 páginas), que nasceram do desejo de Martins de pensar e ligar tudo, absolutamente tudo, o que foi escrito, publicado e pensado no Brasil.
O projeto revela o "tipo" de intelectual que ele foi: completo, complexo e profundo. Pesquisou durante anos, incluindo o período em que viveu nos Estados Unidos (1962-1991). A obra, agora em fase de revisão, pode sair ainda em 2010.
A Topbooks vai reeditar Imagens da França (Livros, homens e coisas), de 1952, livro que traduz as impressões da temporada que Martins viveu em Paris (1947-1948). O mesmo selo, do Rio de Janeiro, vai dar continuidado ao projeto Ano Literário, que reúne em livros os textos críticos que Martins publicou em jornal. Anteriormente, os artigos eram editados, no formato livro, pelo projeto Pontos de Vista, que teve 15 edições publicadas pela T.A. Queiroz. O Ano Literário já teve dois volumes, com os artigos de 2000 até 2003. (MRS)