O nome de Fahide Calluf, 58 anos, não é fácil de decorar nem de escrever. Mais difícil ainda é memorizar todas as escolas e projetos pelos quais passou na rede municipal de ensino em quase quatro décadas de lida. Bom para ela. Aquela torcida de nariz geralmente destinada aos colegas das coordenações a "turma do gabinete" não serve para essa professora, tantas vezes foi e voltou para a sala de aula, a ponto de se tornar personagem de dois mundos: o das estratégias e o da vida como ela é.
Fahide podia bolar um filme. Ela tinha apenas 23 anos de idade quando ganhou a direção da Escola Municipal Omar Sabbag, na Vila Oficinas, um lugar rodeado por problemas. Mas a experiência lhe valeu praticamente a posteridade, pois do colégio saíram algumas iniciativas que marcariam a educação na cidade: a participação do povo do bairro na vida da escola e a conexão com o que está no entorno da educação, como associação de moradores, parques, ateliês e afins. "A gente conhecia os vizinhos da escola", lembra a professora, sobre os idos de 70, quando tudo começou.
Idos complicados, diga-se. A ditadura militar esquartejou a educação, dividindo-a em compartimentos diversos e emoções imperfeitas. "Chegamos a correr perigo", diz, sobre os vigiados tempos do chumbo. Fahide, em parceria com a classe e pesquisadores da UFPR, foi a campo para redimir os currículos do clima autoritário daqueles dias. Bolou estratagemas, participou de uma revolução silenciosa, também nos gabinetes. Guarda o registro de tudo. É seu outro mundo, tão interessante, provavelmente, quanto as aulas de História que dava na Escola Papa João XXIII. (JCF)