Fora de moda: em Curitiba, nem mesmo promoções e descontos são suficientes para convencer adolescentes a comprar as pulseirinhas| Foto: Marcelo Elias/Gazeta do Povo

Agora, enfeite já é visto como "brega"

Depois de todos os problemas ligados às pulseiras, as meninas passaram a considerá-lo fora de moda. "É brega. Na verdade sempre achei nada a ver, mas agora ninguém gosta mais", disseram as amigas Grasiele Lopes, 16 anos, e Francielle Binttencourt, 14 anos, ambas de Londrina. Elas juram que nunca usaram a pulseira e que, atualmente, ninguém em sua sala de aula continua usando.

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As "pulseiras do sexo" parecem não estar mais na moda no Paraná. Diversas bancas que vendiam o acessório anteriormente em Curitiba estão com o produto encalhado e grande parte dos adolescentes desistiram de usá-lo. Em Londrina, onde uma menina de 13 anos teria sido estuprada por usar o enfeite, as pulseiras também estão sendo deixadas de lado.

A queda nas vendas surgiu depois de uma série de crimes no país que estariam ligados ao uso da pulseira. Embora muitas pessoas não soubessem, o enfeite estaria ligado a um jogo sexual: cada pulseira tinha um "valor". Se alguém conseguisse arrebentar o adereço, ganhava uma carícia, ou até o direito a uma relação sexual.

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O debate sobre a proibição da comercialização das pulseiras teve um efeito direto nas vendas em Curitiba. Bancas na Rua da Cidadania da Matriz antes chegavam a vender 30 pacotes do adereço por dia e hoje não conseguem nem mesmo com promoções. Além de Londrina, diversas cidades do país criaram leis para proibir a venda do objeto. Na última sexta-feira, Manaus e Campo Grande entraram nesta lista.

Primeiro passo

Por um lado, os especialistas dizem que a proibição da pulseira não resolve por si só o problema, que estaria ligado à educação sexual e aos valores dos jovens. Por outro, legisladores dizem que tirar o enfeite de circulação tem um efeito imediato necessário para impedir novos crimes.

Para o vereador Algaci Tulio, de Curitiba, que propôs a criação de uma lei proibindo as pulseiras na cidade, a eliminação do enfeite é "um primeiro passo". "É uma questão complexa, então cada ação ajuda. Precisamos de um conjunto de esforços e isso é uma resposta do município".

A vereadora Lenir de Assis, autora do projeto em Londrina, diz acreditar que o fim das vendas contribuirá para acabar com os abusos. Ela conta que a preocupação com o adereço partiu de entidades de defesa dos direitos da criança. "Precisávamos de uma resposta rápida. A intenção foi colocar a população em alerta. Permitir que um produto desse continuasse em circulação seria compactuar com isso". Lenir afirma que várias medidas devem ser tomadas e a discussão pautou o assunto em todo o Brasil. "Ao atacar a venda das pulseiras, estamos atacando a violência contra a criança de forma geral. Se isso coibiu a violência contra uma criança, valeu a pena".

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Educação

Para o promotor Murillo Digiácomo, do Centro de Apoio Operacional às Promotorias de Infância e Juventude do Ministério Público do Paraná, o que está em jogo não é o uso das pulseiras, mas da sexualidade dos jovens. "Quem tem de estabelecer os limites são os pais. Tirar este foco acaba mascarando o problema". Ele acredita que, se a proibição for feita sem diálogo, outros acessórios surgirão para continuar o "jogo". "Milhares de crianças e adolescentes são vítimas de abuso sexual todos os dias e não usam pulseiras. Precisamos levar a questão para outro patamar".

A ex-presidente da Comissão da Criança e do Adolescente da Ordem dos Advogados do Brasil no Paraná Márcia Caldas afirma que muitos adolescentes já se adiantaram à proibição e pararam de utilizar as pulseiras. "Sou contra o município legislar sobre este tema. O caminho é investir no diálogo, na educação e na presença dos pais". Apesar disso, ela considera que a discussão sobre o adereço trouxe um debate importante sobre a violência contra as crianças. "Precisamos estar alertas em relação à existência de sociopatas que vitimizam os meninos e meninas".

País

Diversas cidades no país discutem a proibição. Além de Londrina, Navegantes, em Santa Catarina, já possui lei semelhante. Em Manaus, o Juizado da Infância e da Juventude Cível proibiu hoje a venda e o uso das "pulseiras do sexo" para menores de idade. Na capital do Amazonas, a polícia investiga o caso de uma estudante encontrada morta, no feriado da Páscoa, em um hotel na periferia da cidade. Ela usava seis pulseiras coloridas no braço. Já em Campo Grande, a proibição foi imposta pela Câmara Municipal. Os vereadores aprovaram projeto de lei que prevê multa e até cassação do alvará para escolas públicas e particulares que permitirem o uso das "pulseiras do sexo" por seus alunos.

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