A dona de casa Raquel Aparecida de Souza, 47 anos, tem do que se orgulhar. Desde o início do ano, faz parte de um grupo de 12 mulheres e 2 homens que trabalham em uma cozinha comunitária na Vila Osternack, no bairro Sítio Cercado, em Curitiba. Eles fazem pães, doces e salgados para vender à comunidade e empresas, o que gera renda. "Não acreditava que fosse dar certo, mas tem sido uma bênção não só para mim como para minha família. É muito bom", diz.A iniciativa faz parte do projeto Segurança Social, que funciona na vila desde 2008, e é um dos exemplos de que a parceria entre Estado e iniciativa privada ajuda no combate à criminalidade e na redução das estatísticas de violência. A iniciativa foi da Polícia Militar, que identificou as necessidades da comunidade e entrou na vila não com um caráter repressivo, mas de parceria e cooperação. "O projeto é baseado na construção da segurança pública como um tripé: a polícia, a comunidade e a sociedade civil organizada", afirma o coordenador da Polícia Militar, capitão Ronaldo de Abreu.
Assim como Raquel, cerca de 20 mil pessoas se beneficiam direta e indiretamente com os programas que nasceram a partir da iniciativa de instalação do Segurança Social. O espaço abrange as Moradias 23 de Agosto, Madre Tereza e Jandaia, com um total de 5 mil moradores, porém o número se expande ao atender o entorno. Para a professora do Departamento de Psicologia da Universidade Federal do Paraná, Sandra Berganci, que auxilia no projeto da cozinha comunitária, a iniciativa gera um apreço pela própria comunidade e a possibilidade de autogestão. "Eles passaram a sentir apego e orgulho pela região onde moram", afirma.
Com relação à criminalidade, as estatísticas apontam que a melhoria foi profunda. A média mensal de homicídios na microrregião antes da implantação do projeto era de dez. Nos fins de semana chegava a 14 casos. Neste ano, ocorreram somente dez crimes em nove meses, segundo os boletins do Instituto-médico Legal (IML). O capitão Abreu informa que, a partir da queda, casos de violência doméstica começaram a aparecer. "A população deixou de temer notificar a polícia", diz. Como consequência, o número de denúncias aumentou. Atualmente, são 20 policiais, do 17.º Batalhão da PM, que atuam na área.
Por enquanto, o Osternack é o único local favorecido pelo programa. Mas o resultado positivo faz a PM pensar em expandir o projeto. Os municípios de Londrina, Cascavel e Maringá já demonstraram interesse no Segurança Social. Mas segundo o idealizador, o coronel Anselmo José Antônio Anselmo, as dificuldades de expansão residem no custo financeiro e em problemas culturais, tanto da população quanto da polícia.
Para o capitão Abreu, o trabalho que está sendo feito na vila é semelhante à Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) no Rio de Janeiro, mas em um formato diferente. "No segurança social, a comunidade é consultada antes." Nas UPPs, o pacote é fechado, somente apresentado para a comunidade. Mas ele admite que há diferenças por serem realidades distintas.
Passo a passo
O coronel Anselmo diz que o Segurança Social surgiu de uma inspiração. "Foram alguns meses para colocar tudo no papel", lembra. O primeiro passo, segundo ele, foi identificar os líderes regionais. Em seguida, após a indicação de um representante, veio o convite para reunir a comunidade para discutir o perfil do trabalho a ser desenvolvido. Depois, buscar instituições privadas para ser parceiras. Tudo segue uma lógica de implantação: a entrada ostensiva da polícia que vai cumprir mandados de prisão e, por fim, a realização de reuniões mensais para aparar as arestas.
No Paraná já há os projetos Policiamento Ostensivo Volante (Povo) e Patrulha Escolar, que têm o objetivo de aproximar os policiais da comunidade. Esses dois instrumentos do policiamento comunitário paranaense seriam os primeiros passos para a implantação do Segurança Social.