O índice de homicídios dolosos (com intenção de matar) no Paraná está estagnado. Segundo dados divulgados ontem pela Secretaria da Segurança Pública (Sesp) com três meses de atraso, o estado registrou 1.302 assassinatos no primeiro semestre de 2014, 1,6% a menos que no mesmo período do ano passado. Para os especialistas, esse pequeno recuo é irrelevante. Além disso, a taxa de homicídios dolosos está alta, em 23,5 assassinatos a cada 100 mil habitantes, bem acima das 10 mortes violentas a cada 100 mil habitantes consideradas toleráveis pela Organização das Nações Unidas (ONU). "Isso leva a sociedade conviver com a cultura do medo e com o descrédito com os aparelhos de controle do estado. É preciso repensar o modelo para combater a violência", avalia o sociólogo da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) Cézar Bueno.
O secretário estadual da Segurança Pública, Leon Grupenmacher, discorda. Para ele, a tendência de queda no indicador do Paraná se mantém. "Nas localidades em que houve alterações, já foi determinada a intensificação e um realinhamento nas ações das unidades policiais", disse, via assessoria de imprensa.
Curitiba foi uma das cidades que colaboraram para que o índice geral do estado não tivesse bom desempenho. De janeiro e junho deste ano em comparação ao mesmo período de 2013, a capital teve um aumento de 15,84% no número de homicídios dolosos (265 para 307 casos).
A delegada de Homicídios de Curitiba, Maritza Haisi, afirma que esse aumento na capital é um sinal de alerta. "Serve para revermos nossas ações. Foi Curitiba que puxou o índice do estado para cima", afirma. Na capital, dos seis bairros com maior índice quantitativo de homicídios dolosos cinco possuem Unidade Paraná Seguro (UPS) apenas Pinheirinho não possui o programa. A CIC, por exemplo, possui cinco módulos de UPS e lidera a lista dos bairros da cidade com maior volume de assassinatos 46 no primeiro semestre deste ano. No mesmo período de 2013, o bairro contabilizou 37 crimes desta natureza.
"A CIC possui cerca de 70 mil habitantes e a taxa está dentro da meta prevista. Em relação às UPS, no início elas tiveram um efeito mais impactante. Precisa-se de novas ações. Não é só policiamento que vai resolver isso, precisamos, por exemplo, de ações voltadas às famílias", diz a delegada.
Para Bueno, o fato de os bairros mais violentos de Curitiba continuarem a liderar as estatísticas é grave. "O programa [das UPS] não conseguiu reduzir o número de crimes fatais nessas localidades. São necessárias políticas sociais. Só repressão não vai mudar esse quadro", ressalta.