Quando Hedryk Genson Daijó fez um transplante de rim em 2007, aos 27 anos, ouviu do pai que seria uma boa ideia escrever um livro a respeito, para compartilhar a experiência e os problemas que o afligiam desde que descobriu que tinha rins policísticos, aos 18 anos. Ao ver a realidade e dificuldade das pessoas na mesma situação, Hedryk achou que sua história pessoal não era tão impactante. Mas, ao se deparar com a necessidade de fazer um segundo transplante, em 2011, decidiu que tinha bastante o que compartilhar.
Pediu ajuda ao irmão mais velho, Harry Takahide Daijó, e escreveram a quatro mãos um relato sobre as dificuldades de uma pessoa com doença renal, as aflições e lembranças que acometem uma pessoa que precisa fazer vários exames ou ficar horas e horas deitado em uma maca de hospital. A obra também fala sobre o ponto de vista dos doadores e curiosidades, como benefícios que transplantados podem ter ao comprar carros.
A obra “Um despertar – Os bastidores de um transplante”, da editora Eureka, fala também dos obstáculos que transplantados enfrentarão ao longo da vida. Como a necessidade de tomar imunossupressores, para evitar que o organismo rejeite o novo órgão. Isto é, esses medicamentos, ao mesmo tempo que ajudam, jogam a imunidade da pessoa para baixo, deixando-a suscetível a doenças variadas.
Uma delas é a pneumonia, que acometeu Hedryk no começo de julho. Tempos atrás, teve meningite. Apesar disso tudo, tem planos de ampliar o livro para uma segunda edição, já que a primeira, de 1,5 mil exemplares, está quase esgotada. Um ponto principal a tratar é sobre a filha, que nasceu depois do segundo transplante. A doença do rim policístico juvenil é genética, e houve preocupações e exames para tentar detectar problemas na menina.
“Com certeza valeu a pena escrever. Compartilho tudo o que precisar. Quanto mais compartilhar melhor”, diz Hedryk, que conta várias passagens de sua infância, passada em Foz do Iguaçu, e abre o coração para relatar angústias e experiências transcendentais que teve ao longo dos anos.
“Frankenstein”
A produção do livro se mostrou uma aventura para os irmãos Hedryk e Harry, que não são do ramo das letras. A princípio, cada um ficou responsável por um capítulo. Segundo Harry, a obra ficou parecendo um “Frankenstein”. Depois, ouvindo sugestões de amigos e entendidos, desenvolveram um método de entrevista, em que Harry conduzia as conversas com Hedryk. Os irmãos também conversaram com psicólogos e médicos para detalhar alguns pontos tratados, mas o estilo é bem coloquial, com linguagem clara e acessível.
Doação
O irmão, Harry, dá exemplos de como a experiência foi compensadora. Desde o lançamento do livro, em 2015, participaram de feiras literárias. “É muito gratificante ver as pessoas mostrarem interesse. Ver crianças, adolescentes fazendo vaquinha, juntando um, dois reais para poder comprar um exemplar, é muito bom”, conta ele. Outro fato marcante foi um e-mail enviado por um homem de Criciúma, que disse que fumava há 30 anos, mas que parou depois de ler um capítulo do livro. “A gente nunca teria uma oportunidade como essa se não tivesse escrito o livro.”
A obra também foi utilizada para reforçar a cultura da doação. O número de exemplares à disposição dos autores para distribuição livre foi uma das cláusulas que mais pesou na escolha da editora. “Fechamos com a Eureka porque conseguimos 45 exemplares para doar para os Faróis do Saber [bibliotecas] em Curitiba, e mais 72 exemplares para bibliotecas de todo o Paraná”, conta Harry.
A editora, por sua vez, também fez algumas exigências, como um prefácio relevante, escrito por alguém de renome. Os irmãos insistiram e conseguiram a colaboração do médico nefrologista Luiz Estevam Ianhez, que tratou de Hedryk e participou do primeiro transplante de rim realizado no Brasil, em 1965. “O material foi redigido com grande clareza e muito humanismo”, observou Ianhez.
Ainda há exemplares da primeira edição sendo comercializados pela Livrarias Curitiba e também pelo site www.umdespertar.com.br.
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