Advogados e investigadores em pé-de-guerra
De um lado, a defesa dos ciganos alega que não é interessante para a polícia que M.A.B seja apresentado, pois revelaria a incompetência da investigação desde o caso Giovanna. Do outro lado está a polícia e o Ministério Público, afirmando que a ligação dos casos Giovanna e Rachel não passa de artimanha da defesa dos ciganos.
O suspeito que morava ao lado
Depois que 20 suspeitos foram descartados com a negativa de exames de DNA, a polícia trabalha agora com cerca de quatro nomes como possíveis assassinos de Rachel Genofre, 9 anos, morta em novembro do ano passado. Um dos principais nomes seria o de um rapaz que vivia em uma favela próxima ao local em que a menina morava. Este homem seria conhecido da família da mãe de Rachel.
Novembro de 2008, Rachel Genofre é encontrada morta dentro de uma mala na Rodoferroviária de Curitiba. Abril de 2006, Giovanna dos Reis Costa foi achada dentro de um saco plástico, com o corpo amarrado, num terreno em Quatro Barras, na região metropolitana. Além da idade das meninas ambas tinham 9 anos , a Justiça do Paraná suspeita que possa haver mais coincidências entre os casos.
O elo entre as duas histórias seria um homem que será identificado pela reportagem da Gazeta do Povo pelas iniciais do nome: M.A.B. Ele é motorista de ônibus e era vizinho de Giovanna na época do crime. M. A. B. chegou a ser investigado, mas foi logo descartado diante das evidências que a polícia encontrou contra três ciganos, acusados de utilizar a menina em um ritual de magia negra.
O nome dele apareceu novamente quando as investigações do caso Rachel começaram. A polícia teria descoberto um primeiro vínculo entre o motorista e a menina, já que uma prima de Rachel era amiga do rapaz. As investigações mostraram, ainda, que M.A.B. teria uma histórico de suspeitas de atração sexual por crianças.
Os advogados de defesa dos ciganos foram mais longe e enxergam mais indícios de ligação entre as mortes. "Tanto o caso Rachel quanto Giovanna têm uma assinatura. O tempo e o modo de operação são iguais, porque primeiro a vítima é sequestrada, depois é violentada e depois aparece morta em local público", explica o advogado Cláudio Dalledone Júnior. No primeiro caso, segundo Dalledone, M.A.B teria tentado incriminar os ciganos, supostamente jogando a sacola com roupas da Giovanna ao lado da casa deles. No segundo caso, ainda de acordo com o defensor, M.A.B. teria tentado incriminar os índios, colocando a mala com o corpo próximo ao local em que eles dormiam, na Rodoferroviária.
Diante da dúvida de uma ligação entre as mortes, o desembargador Luiz Osório Moraes Panza, relator do processo do caso Giovanna, adiou o julgamento atendendo a um pedido dos advogados que representam os ciganos. No dia 19 de novembro, a defesa apresentou um documento listando uma série de possíveis indícios de ligação de M. A. B. ao assassinato de Giovanna e coincidências entre os dois crimes (veja gráfico). No dia 9 de dezembro, a defesa pediu ao desembargador que requisitasse ao Centro de Operações Policiais Especiais (Cope) o inquérito integral do caso Rachel, para que pudesse ser analisada a relação entre os dois casos. Panza atendeu ao pedido uma semana depois.
O inquérito não foi remetido, mas, no dia 22 de dezembro, o Cope respondeu ao despacho do desembargador com um documento, obtido com exclusividade pela Gazeta do Povo, que afirma não existir até aquele momento indícios expressivos de relação entre as mortes. Pouco antes de entrar de férias, Panza encaminhou para a Procuradoria Geral de Justiça (PGJ) o documento do Cope. "Se a Procuradoria entender que há indícios de conexão entre os crimes haverá novas diligências para esclarecer os fatos. Caso contrário, o julgamento dos ciganos volta para a pauta", disse o magistrado por telefone.
Fontes da polícia dizem que M.A.B chegou a ser localizado no interior do estado. Ele teria, num primeiro momento, se recusado a fazer o exame do DNA para verificar a autoria do assassinato de Rachel, mas depois topou fazer o teste genético no Instituto Médico Legal (IML). O resultado teria dado negativo. O laudo, contudo, não foi apresentado a Panza e nem à imprensa, o que gerou mais controvérsia em relação ao assunto.
A Polícia Civil do Paraná e o Ministério Público dizem que o discurso dos advogados dos ciganos é uma artimanha para inocentar os seus clientes. Mesmo assim, o promotor de Justiça Octacílio Sacerdote Filho, responsável pelo caso Giovanna, afirma que o inquérito do caso Rachel e o exame de DNA feito por M.A.B deveriam ser remetidos ao desembargador para que não restassem dúvidas e o julgamento dos ciganos não fosse prejudicado. Segundo o promotor, é possível que os ciganos sejam julgados ainda neste primeiro semestre.
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