Há mais de 20 anos, Ângela Maria Pereira Balbino cata lixo. Com seu trabalho, sustenta cinco filhos. Além de catadora, ela é artesã e dirige a Cooperativa de Reciclagem, Trabalho e Produção (Cortrap), que recolhe, separa e vende para reciclagem o lixo de órgãos como a Câmara Federal, ministérios e a Procuradoria-Geral da República.

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Não me vejo fazendo outra coisa, sou muito feliz aqui", diz ela. "Quando eu ia pensar que você pega um monte de jornal, agrega valor a ele e vende de novo?"

Ângela tem o perfil de um novo tipo de trabalhador que está surgindo da luta contra o aquecimento global. O Emprego Verde é o nome que foi cunhado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) para definir as atividades relacionadas a tecnologia ambiental e geralmente estão relacionadas a indústria, construção civil, fontes de energia renováveis, serviços, turismo e agricultura.

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Segundo o relatório Empregos Verdes: Trabalho Decente em um Mundo Sustentável e com Baixas Emissões de Carbono, divulgado nesta quarta-feira (24) pela OIT, em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), a reciclagem é o emprego verde que abriga a maior parte dos postos de trabalho no Brasil. São 500 mil pessoas vivendo do lixo produzido nas grandes cidades. Quase nada comparado China, quem tem 10 milhões de trabalhadores na gestão de dejetos.

Junto com Ângela, na Cortrap, 150 famílias se sustentam a partir do reaproveitamento do lixo. E o objetivo é atingir a marca de 250 famílias. "A gente precisa atingir essa marca para cumprir o projeto que temos com o BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social]. Eles já nos deram uma empilhadeira e dois caminhões. Agora, para ganhar uma máquina de triturar pet precisamos aumentar o número de cooperados e vamos conseguir", explica Ângela.

Mas, segundo o relatório, nem todos os empregos com reciclagem podem ser considerados verdes, porque alguns causam muita poluição. As indústrias de papel, celulose, cimento, ferro, aço e alumínio são as maiores vilãs ambientais, segundo o relatório, porque consomem muita matéria-prima e energia. O processo de reaproveitamento do ferro gasta entre 40% e 75% menos energia que a primeira produção. Já para reciclagem, esses estão entre os materiais mais rentáveis. Papel branco e garrafas pet são os que têm preço mais alto na hora da venda para as indústrias de reciclagem, cerca de R$ 0,12 e R$ 0,28 respectivamente. Já o ferro, tem preço baixo, mas pelo peso acaba valendo a pena, segundo Ângela.