A pesquisadora do Centro Hélio Fraga, Margareth Dalcolmo, avisa que novos casos de infecções por micobactérias poderão ser registrados no País, caso medidas adequadas não sejam adotadas. "Já havia feito esse alerta no ano passado. O que ocorre agora é um vaticínio", afirmou a pesquisadora, que em 2007 foi consultora para o combate ao surto registrado no Rio.
Para Margareth, a ameaça de novas contaminações só será superada com a adoção de regras objetivas de Vigilância Sanitária e maior rigor na fiscalização. Presentes no meio ambiente, as micobactérias foram apontadas como agentes de infecções em cirurgias já em 2003. Até agora, o Ministério da Saúde gastou com medicamentos US$ 1,8 milhão.
As infecções estão associadas a técnicas inadequadas de limpeza de instrumentos cirúrgicos. No Rio, a maior parte dos casos foi registrada em pacientes internados em hospitais para realizar cirurgias com técnicas de videolaparoscopia. Nos casos recentes, pacientes contaminados foram submetidos a procedimentos estéticos. "Podemos dizer que a causa do problema é a mesma: a limpeza inadequada."
O gerente de investigação e prevenção de infecções da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Leandro Santi, reconhece que as infecções sejam fruto principalmente da limpeza insuficiente. Mesmo assim, diz que a vigilância atuou de forma adequada. "Não podemos ficar 24 horas por dia acompanhando os serviços. A vigilância faz inspeções para ver se a empresa tem condições de atuar e, concedida a liberação, cabe a eles executar o trabalho de forma adequada."
Desde que os primeiros casos do surto foram diagnosticados, pouca coisa mudou na atuação da vigilância. As principais atividades são palestras sobre o problema, treinamento de profissionais e pesquisas para comprovar as causas e formas de infecção. "Os ajustes vão sendo feitos de acordo com o tempo, de acordo com o amadurecimento", afirmou a diretora adjunta da Anvisa, Beatriz Mac Dowell.
Agora, a Anvisa prepara uma resolução para rever as regras de limpeza do material. O estudo sobre o assunto começou há três semanas, quatro anos depois do registro dos primeiros casos. A idéia é estabelecer um número mínimo de equipamentos para cada instituição, o que possibilitaria a realização adequada da limpeza. De acordo com Margareth, para que um instrumento fique totalmente livre de micobactérias, é preciso a associação de várias técnicas, que levam cerca de 10 horas. "Quem não tem equipamentos em número adequado deixa o material por menos tempo", afirma. A resolução, no entanto, terá ainda de passar por consulta pública, avisou Beatriz.
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