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Faz bem umas três décadas a pirataria ganhou as ruas. A primeira manifestação pública desse comércio ilegal no país talvez tenha sido o ultrapassado VHS. Ele foi sepultado há tempos, mas deixou como legado antes uma prática cultural do que um fenômeno econômico. Não é tarefa fácil compreender a atração exercida pela pirataria, e não só no Brasil, já que nesse mercado difuso Rússia, China e Índia estão à nossa frente. Um problema de países não ricos, portanto.

Que garantia o mercado pirata pode oferecer? Quando muito, o irônico "la garantia soy yo". Onde reclamar de um remédio falsificado, de uma boneca sem cabeça, de um CD estragado, de uma camiseta que desbotou na primeira lavada? Quem frequenta camelódromo sabe o que está comprando, e o que procura não é exatamente qualidade. Então, como explicar a retroalimentação desse mercado, já que a única a ganhar é a indústria pirata?

Se houvesse uma resposta lógica, estaríamos a meio caminho da solução. A pirataria se perpetua porque há muitos insatisfeitos com o alto preço cobrado pelos artigos originais, somada à desinformação sobre o impacto negativo causado por aqueles que querem tirar alguma vantagem. Há quem diga que a pirataria torna acessível o sonho de consumo antes impossível por causa da segregação social. Mas a que preço? As perdas no Brasil passam da casa do trilhão de reais.

Outra explicação está no apelo midiático que aguça o fascínio pelas grifes, pondo num status acima a minoria capaz de adquiri-las. Não se compra um bem só pelo seu utilitarismo, para suprir alguma necessidade; compra-se um bem para atender a uma representação social. A indústria da pirataria sabe disso e, não por acaso, reproduz esses ícones. Vale tudo para não ficar démodé, inclusive recorrer a bens piratas. Um auto engano que satisfaz momentaneamente quem não tem dinheiro para um original.

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