O governador Roberto Requião mandou ontem um recado à Assembleia Legislativa para que "não se curve e não se dobre aos interesses da indústria do cigarro" e aprove o projeto antifumo no Paraná, sem a criação dos fumódromos. O projeto será votado hoje em primeira discussão. O apelo foi feito no mesmo dia em que representantes da área de saúde participaram de uma audiência na Assembleia e também cobraram a aprovação da restrição total ao fumo.
A manifestação pública de Requião durante a escolinha de governo foi a primeira desde que o projeto começou a tramitar na casa, em abril. "O governo espera que a Assembleia Legislativa jogue claro e jogue duro", disse. "Liberdade para fumar todos têm, desde que não obriguem aqueles que não querem a fazer a mesma coisa contra a sua vontade." E, no seu melhor estilo, prometeu: "Eu, pessoalmente, vou oferecer pelo menos durante uma semana, em quantidades módicas, cigarros de chocolate para os defensores do fumo que serão derrotados na Assembleia Legislativa. Fumo na votação e cigarro de chocolate posteriormente."
Custo
Conforme levantamento da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o fumo causa ao Sistema Único de Saúde (SUS) prejuízo anual de R$ 338,6 milhões só com internações e tratamento de 32 das 50 doenças relacionadas ao cigarro.
Para os profissionais da saúde, os fumódromos seriam prejudiciais não só para os próprios fumantes, como para funcionários dos estabelecimentos. O presidente da Sociedade Paranaense de Psiquiatria e representante do Conselho Regional de Medicina, Marco Bessa, afirmou que um garçom que trabalha seis noites por semana fumará o equivalente a seis carteiras de cigarro por mês. Para quem fuma o prejuízo seria ainda maior. "É o mesmo que colocar os fumantes em câmaras de gás tóxico", comparou o médico sanitarista da Secretaria Municipal de Saúde João Alberto Lopes Rodrigues.
Para os representantes do setor, a Assembleia não deve perder tempo discutindo sobre os fumódromos porque já existe uma lei federal de 1996 liberando áreas exclusivas, que nunca foi cumprida. "O fumódromo está ultrapassado, há consenso científico de que o fumo em ambientes fechados causa mal à saúde. Sete pessoas morrem por dia no Brasil por estarem expostas ao fumo passivo", afirmou a advogada da Aliança contra o Tabaco Adriana Carvalho.