A principal linha de investigação da polícia neste momento envolve a participação de policiais militares na chacina que deixou 18 mortos e 6 feridos na noite da última quinta-feira (13) nas cidades de Osasco e Barueri, na Grande São Paulo. Das seis vítimas já identificadas até o início da tarde de ontem, cinco tinham antecedentes criminais, de acordo com o governo.
Segundo essa linha de apuração, a onda de crimes teria sido uma retaliação ao assassinato de um PM, na semana passada, em Osasco. O policial foi baleado ao reagir a um assalto, em um posto de combustíveis da cidade.
Assassinos perguntavam por histórico criminal, diz prefeito de Osasco
Jorge Lapas (PT) disse que o efetivo de policiais militares é insuficiente para a cidade, e que pedidos para aumento de número de policiais na região foram feitos ao governo estadual
Leia a matéria completaA suposta participação de policiais nos assassinatos colocou o comando das corporações sob alerta. Os efetivos foram colocados de prontidão e reforçados na região metropolitana, para reagir a eventuais retaliações de criminosos a carros ou bases policiais nas próximas noites e madrugadas.
A Corregedoria da Polícia Militar também já está atuando no caso, para que a chacina seja esclarecida o mais rápido possível. Na sexta-feira (14), o governador Geraldo Alckmin (PSDB) cobrou agilidade nas investigações.
Ajuda federal
O ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) disse na sexta-feira (14) que, se for preciso, a Polícia Federal vai ajudar nas investigações sobre os ataques na Grande São Paulo que resultaram na morte de 18 pessoas na noite de quinta-feira (13). Cardozo informou que conversou com secretário de Segurança do estado oferecendo a ajuda federal.
O secretário estadual da Segurança Pública, Alexandre de Moraes, está acompanhando diretamente o caso. Ele disse que a atuação de policiais era uma das linhas de investigação. Cápsulas de três diferentes calibres de armas foram encontradas próximas aos corpos das vítimas: 9 mm (de uso das Forças Armadas) e 38 e 380, de uso de guardas civis metropolitanos.
Ação
As ações foram semelhantes. Homens encapuzados estacionavam um carro, desembarcavam e dispararam vários tiros contra as vítimas. Em alguns locais, testemunhas disseram que os assassinos perguntaram por antecedentes criminais, o que definia vida ou morte das pessoas.
Segundo a Secretaria da Segurança Pública, após apurar as características dos veículos usados pelos criminosos, é possível afirmar que ao menos dois grupos participaram das mortes. O governo, porém, ainda não afirma se eles atuavam em conjunto.
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A participação de policiais em chacinas na Grande São Paulo tem sido comum. Em maio deste ano, por exemplo, um policial militar e um ex-PM foram presos sob suspeita de participação na chacina na sede da torcida corintiana Pavilhão Nove, que deixou oito mortos.
‘Não vou pedir Justiça’, diz a mãe de vítima
- São Paulo
Os amigos de infância Eduardo Oliveira Santos, 41, e Thiago Marcos Damas, 32, se sentaram em um bar em Osasco (SP) para tomar uma cerveja na noite de quinta-feira (13). Momentos depois, foram duas das vítimas da chacina que deixou 18 mortos nas cidades de Osasco e Barueri.
Eduardo morreu na hora, e Thiago, no hospital, após passar por cirurgia. Segundo a família, nenhum deles tinha passagens pela polícia.
Fernando Luiz de Paula, 34, também estava bebendo com amigos no bar. “Só sei que meu filho morreu. Não vou usar camiseta com a foto dele, não vou pedir Justiça. Vou continuar meus corres porque ninguém vai me ajudar”, diz a mãe do rapaz, Zilda Maria de Paula.
A irmã de Eduardo Bernardino Cézar, 26, outra vítima da chacina, conta que o rapaz havia saído para comprar um lanche com o amigo na rua de casa.
Segundo ela, dois motoqueiros começaram a atirar. O amigo conseguiu fugir. “Ele nunca mexeu com nada de errado”, afirma Tânia Cristina Cézar. Eduardo deixa uma filha de dois anos.
Testemunhas descrevem “mar de sangue” em noite de terror em Osasco
Agência O Globo
O pintor A. C., de 54 anos, é alcoólatra. Na quinta-feira (13) à noite ele bebia no bar de azulejos brancos ao lado de casa, como fazia quase todos os dias. Acabou dormindo na cadeira pelo efeito da embriaguez. E foi nessa posição que acabou encontrado pelo filho de 28 anos, com dois tiros na boca e um no pescoço.
“Tenho certeza que ele nem acordou. Os caras desceram do carro e descarregaram as armas. Foi mais de 60 tiros. Meu pai é trabalhador, nunca teve passagem pela polícia. Seu único defeito é a bebida”, diz F, que socorreu o pai em seu próprio carro e mais um baleado, que acabou morrendo.
No local, no bairro Munhoz Júnior, periferia de Osasco, cidade da Grande São Paulo, pelo menos 11 pessoas foram alvejadas. No cálculo dos moradores, 9 estão mortos. Mas houve assassinatos em pelo menos mais oito endereços do município, mais dois em Barueri e um em Itapevi. O pai de F. está na UTI em estado grave, com escolta policial na porta do quarto do hospital.
O bairro Munhoz Júnior, onde parte dos crimes, aconteceu transpira medo. O policiamento foi reforçado. O comércio do entorno não abriu as portas. A mulher de E., que estava no bar minutos antes do ataque, o censura ao ver que ele falava com a reportagem:
“Pelo amor de Deus, fecha a boca. Você sabe como é perigoso isso”, disse.
E. relatava que antes dos assassinatos, mais de 10 pessoas bebiam cerveja e jogavam em máquinas de caça-níquel no pequeno estabelecimento. Ele saiu por um instante para ir a outro bar do lado. Nesse momento, começou o tiroteio:
“Baixamos a porta do bar e nos escondemos atrás das caixas de cerveja. Quando saímos era só desespero, cena de guerra”, diz E., para quem os autores do crime são policiais.
F. descreve a cena que viu como de “um filme de terror”:
“Nunca vi nada igual. Um mar de sangue, um caído sobre o outro. E foi execução mesmo porque um dos meninos estava sentado com os braços cruzados e o assassino teve a ousadia de tirar o boné dele antes de dar um tiro na cabeça. Não consigo esquecer do que eu vi”.
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