Casa de Patrício Peres, no Jardim Santos Andrade, em Curitiba: catador de papel arriscou a vida para tentar salvar sua geladeira, mas acabou caindo no rio| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

Patrício Peres arriscou a vida ontem para tentar salvar sua geladeira. Morador do Jardim Santos Andrade, no bairro Cam­po Comprido, ele tentou tirar de dentro de casa o que pôde quando viu que a água podia lhe tirar tudo o que havia construído. Tudo foi abaixo, porém, quando a ponte por onde ele tentava passar se partiu.

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Patrício foi levado pelo Rio Barigui por cerca de cem metros. Só se salvou, segundo a mulher, Vera, porque é forte. Conseguiu, mesmo com a correnteza, se segurar na borda e sair de dentro da água. Triste, o catador de lixo lembra que além da geladeira também perdeu todo o alumínio coletado nos últimos dias.

O Jardim Santos Andrade foi uma das áreas mais afetadas pelas chuvas de ontem em Curitiba. Dezoito famílias de moradores sentiram a força da água. Eram 70 pessoas absolutamente ilhadas pela chuva. Cinco famílias foram abrigadas pela Fundação de Ação Social (FAS). As restantes,ou ficaram no local protegendo o pouco que conseguiram salvar ou se abrigaram na casa de parentes.

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Indianara dos Santos, 38 anos, preocupada com as netas, conseguiu recolher somente algumas mudas de roupas da família, composta por nove pessoas. "O resto, se a chuva não levou, a gente vê como dá para aproveitar." Em­­baixo de um guarda-chuva, a dona de casa tenta proteger como pode o filho Davi, de 20 anos, e a neta, de 3 anos. Do outro lado da rua, a mãe, de 52 anos, leva pela mão a bisneta, de 3 anos, e uma sacola de roupas. Apressada, ela quer abrigar a família o quanto antes na casa de um dos filhos. Depois, vai retornar para ajudar os vizinhos.

Ali perto, Juliana de Andrade, 23 anos, procura proteger o filho. O menino, de um ano e meio, se esconde embaixo de um cobertor que a mãe conseguiu guardar da enchente. O resto a chuva levou. Ela conta que, por volta das 15h30, os bombeiros chegaram e ajudaram as famílias. "Foi apavorante. Acho que minha casa vai cair e não vou ter mais onde morar."

Eliane de Andrade, 44 anos, não se conforma. Presidente da associação dos moradores da ocupação, mora há 31 anos no Santos Andrade. Ela conta que, sempre que chove mais forte, todos passam pela mesma situação. "E ninguém faz nada. Estamos espremidos entre um alambrado e o rio. É claro que moramos em uma área de risco, porém pedimos diversas vezes para que houvesse a regularização da área".

Na porta de casa

A alguns quilômetros, os moradores da Travessa 33, no bairro Santa Quitéria, também passaram pelo mesmo tormento. O catador de papel Joacir da Silva, 38 anos, tem o rio à sua porta e viu seus poucos pertences sendo levados por ele. O pequeno barraco, montado com doações, segundo ele, foi dado como perdido pela Defesa Civil. O teto baixo estava prestes a cair e a cama no pequeno quarto boiava em um metro de água. A mulher Solange, 26 anos, lembra que os únicos pares de sapatos que os três filhos, de 9, 8 e 7 anos, ti­­nham foram tragados pela força do rio. Junto com eles, a comida. "O jeito é erguer a cabeça e recomeçar", fala Silva com lágrimas nos olhos. Em três outras enxurradas, a família perdeu tudo.

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