Na avaliação do brigadeiro Adyr da Silva, o risco de greve do setor aéreo é "apenas uma gota dágua". Para ele, o governo falhou em não perceber o descompasso entre demanda e oferta de voos, levando os aeroportos a funcionarem hoje com uma sobrecarga de mais de 30%. E a culpa, diz, é das indicações políticas para Infraero [estatal que administra os terminais aéreo do país] e demais agências do setor.
A previsão para este ano é que o número de embarques e desembarques no Brasil chegue a 160 milhões, alta de 25% sobre 2009. Nossos aeroportos têm capacidade para suportar esse aumento?
Não. A capacidade instalada dos aeroportos brasileiros é de 115 milhões de embarques e desembarques. Ou seja, estamos com uma sobrecarga de mais de 30%. Para o passageiro, isso significa atrasos e cancelamentos de voos. Nos últimos três anos, houve um crescimento explosivo da demanda. Mas esse descolamento entre oferta e procura começou há seis, sete anos. O problema é que não foi percebido a tempo.
O que provocou essa explosão da demanda?
Esse problema foi herdado do governo anterior. Com o Plano Real, tivemos controle da inflação e aumento real da renda. Depois, no governo Lula, a renda continuou a crescer e o crédito foi flexibilizado. Quem não tem R$ 20 por mês para pagar uma passagem de avião? Essa inclusão social foi ótima para a sociedade, mas para o setor de aviação foi uma tragédia. A classe média aumentou sem que houvesse uma percepção do problema que isso ia causar.
Quais as razões dessa cegueira coletiva?
A escolha de dirigentes que não entendiam nada do assunto para importantes instituições do setor, como a Infraero.
A privatização da Infraero, como propôs a presidente eleita Dilma Roussef , resolveria o problema?
Não é a privatização que vai resolver nada. Passar de um monopólio estatal para um privado não muda muita coisa.
Qual o balanço que o senhor faz da gestão no setor aéreo nos oito anos de governo Lula?
O maior problema do setor é justamente a gestão. Há a necessidade de se fazer um planejamento estratégico como um todo. Nossas maiores limitações são de pistas e de controladores aéreos. Mas também precisamos formar pilotos e engenheiros e temos que ter agências voltadas para o planejamento.
A questão da mão de obra é uma das maiores preocupações hoje. Não apenas quanto à disponibilidade de aeronautas e aeroviários, como também quanto às condições de trabalho. Se não fosse a decisão da Justiça, os brasileiros teriam enfrentado uma greve nacional do setor...
A greve é apenas uma gota dágua, é uma questão pontual. Os recursos estão sendo investidos de forma errada. As obras no Santos Dumont custaram muito mais do que deveriam, as de Guarulhos estão atrasadas e temos muitas lacunas na formação de pessoal. Nada disso se resolve somente com reajuste salarial.