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Querência do Norte

Romaria no Interior do Paraná denuncia ação de milícias armadas

Cerca de dez mil pessoas participaram do evento em Querência do Norte | Osmar Nunes
Cerca de dez mil pessoas participaram do evento em Querência do Norte (Foto: Osmar Nunes)

A 23ª Romaria da Terra, realizada neste domingo (17) em dois assentamentos de Querëncia do Norte, região Noroeste, foi marcada por apresentações pedindo o fim da impunidade nos crimes contra sem-terra, maior rapidez na reforma agrária e discursos denunciando a ação de milícias armadas no Paraná. Entre uma atividade e outra, um verso era entoado por todos: "O clamor de justiça está no ar".

O coordenador do Movimento dos Sem-Terra (MST) na região do evento, Pedro Faustino, disse que a impunidade favorece as agressões aos trabalhadores. Ele afirmou que pistoleiros estão tentando expulsar a tiros as mais de 200 famílias que ocupam, desde o ano passado, a fazenda Videira, entre Guairaçá e Terra Rica. "Os tiros são constantes e o clima é de medo. A situação prenuncia mais um tragédia, se a polícia não agir".

Segundo o coordenador nacional da Comissão Pastoral da Terra(CPT), padre Dirceu Luiz Fumagalli, para os sem-terra, o poder Judiciário é um poder blindado e com decisões parciais. Quando foram apresentados os números referentes aos 78 trabalhadores rurais presos na região, nos últimos anos, por ordens judiciais sob acusações de formação de quadrilha, badernas e outros crimes houve até um momento de vaia para a juíza de Direito da Comarca de Loanda, Elizabeth Khater, responsável pela maioria das decisões judiciais. No evento não estiveram representantes do Judiciário nem dos ruralistas.

O representante episcopal da CPT, dom Ladislau Biernaski, bispo de São José dos Pinhais, disse que a romaria deste ano foi em Querência do Norte porque na região foram assassinados três integrantes do MST, desde 1988, quando o movimento se estabeleceu na região. Dados da CPT mostram que no Brasil, desde 1985, pelo menos 1.492 pessoas foram mortas, dos quais apenas 78 casos foram julgados.

Para Dom Ladislau, somente a distribuição justa da terra vai evitar mais crimes. Ele disse que os excluídos precisam exercer pressão sobre os políticos a fim de forçá-los à aprovarem mudanças na Constituição Federal para a inclusão do limite de propriedade. Uma campanha neste sentido está sendo preparada, mas ainda não tem data de lançamento, conforme o padre Dirceu Fumagalli. A meta é limitar em 35 módulos (560 hectares no Paraná, já que o tamanho dos módulos varia de um estado para outro) o tamanho dos lotes. "Tudo o que os sem-terra conseguiram até hoje foi na pressão", disse o bispo. Ele adiantou ainda que a pressão precisa continuar para evitar que mais de 50% das terras do Brasil fiquem nas mãos de 2% da população.

Romaria

Cerca de dez mil pessoas, segundo os organizadores e a Polícia Militar, participaram do evento que começou no assentamento Margarida Alves e terminou no Che Guevara, ambos a 16 quilômetros de Querência do Norte.

O palco da romaria foi montado no meio do pasto e, nas apresentações um grito por justiça. Apenas a viúva do sem-terra Sétimo Garibaldi, morto em novembro de 1998, Iracema S. Garibaldi, 60 anos, tornou pública a sua participação no ato. Sob lágrimas, disse que continua morando com os seis filhos no assentamento, mas os filhos têm vergonha de sair às ruas porque o pai deles foi citado como vagabundo. "Ele era um trabalhador e só lutava por um pedaço de terra". Na região também foram assassinados Eduardo Anghinoni, em 1999, e Sebastião Maia, em 2000. A coordenação do MST diz que ninguém foi punido e os acusados dos crimes continuam soltos, o que estimula novas agressões.

Crianças, jovens e adultos participaram das encenações com faixas e cartazes e até uma cruz foi erguida no centro do evento. No final todos cantaram e fizeram orações.

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