Eram oito horas da manhã de sábado (24) quando o taxista Paulo Roberto Ananias da Silva Pinheiro chegou em casa, após uma longa noite de trabalho. Olhou para trás e viu o tapete do carro sujo. Bateu e, além de poeira, encontrou um celular. Era o início de uma saga para devolução do aparelho que lhe renderia fama nas redes sociais e um novo amigo.
Do outro lado da linha estava o designer Rodrigo Nickel, que se deu conta de ter perdido o telefone após fazer uma corrida com Paulo, na noite anterior. Do taxista, só sabia o nome. Ligou em todas as cooperativas de táxi da cidade, em busca do cara “gente boa”, que tinha deixado ele deitar no banco traseiro, no trajeto de ida e volta à farmácia, devido às dores que sentia no corpo. Sem sucesso. Ligou para o próprio número, mas também não funcionou, pois o celular tinha ficado no silencioso e sem bateria.
“Aí eu pensei ‘vou tentar ligar de novo, vai que ele tem bom coração e achou um carregador?’”. Foi exatamente o que aconteceu. A esposa de Paulo atendeu e não escondeu a alegria. Prometeu dar o recado quando o marido acordasse. Ela tinha ido até a casa da irmã, a umas 12 quadras de distância, para emprestar um carregador de iPhone, na esperança de encontrar o dono.
Já no sábado (24) o taxista parou na casa de Rodrigo ao sair do Afonso Pena, em São José dos Pinhais, com destino ao Centro de Curitiba. Fez questão de não cobrar a corrida. “Capaz, se eu tivesse perdido meu celular ia querer que fizesse a mesma coisa”. Encabulado, o designer pediu para tirar uma foto de Paulo e postou a história em seu Facebook. “Queria retribuir de alguma maneira”.
A foto rodou a cidade. Por volta de meio-dia desta segunda-feira (26), tinha cerca de 500 “curtidas” e mais de 9 mil compartilhamentos. O taxista já tinha recebido mais de 30 mensagens e 50 ligações – a maior parte de pessoas parabenizando sua atitude.
“Me ligou uma senhora lá de Londrina. Ela falou ‘lembra que uma vez você devolveu um celular? Eu sou amiga da pessoa que recebeu o telefone’”. Tímido, Paulo anda envergonhado com a fama. “Os outros taxistas dão risada”, brinca.
Atitude
Apesar do sucesso na web, Rodrigo e Paulo concordam em uma coisa. Apesar da repercussão da história, o taxista não fez “mais do que sua obrigação”. “Isso só mostra como as pessoas estão carentes de bons exemplos. Algo que deveria ser uma atitude normal das pessoas, mas que acaba se tornando uma grande história”, disse Rodrigo, à reportagem, após refletir sobre o tema.
Aos 30 anos, Paulo trabalha como taxista há um . “Sempre achei que ia conseguir melhorar de vida no táxi, uma falsa ilusão”. Começou com um Chevrolet Corsa – mesmo carro que dirige hoje – e passou um período dirigindo com o pai. Voltou para o carro original graças à boa relação que manteve com o empregador. A remuneração ajuda a manter a mãe e os dois filhos, de 7 e 13 anos.
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