Brasília O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que o episódio da saída do ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci do governo serviu de lição de consciência para o ex-auxiliar. Em discurso durante a transmissão de cargo de ministro ao ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Guido Mantega, Lula elogiou a "fineza política" de Palocci, atribuindo ao antigo colaborador parte da conquista de passar a barreira dos 30% do eleitorado na campanha de 2002 e da confiança do mercado internacional, ressaltando, no entanto, que não confunde relação política com amizade. "Meu querido companheiro Palocci, a vida nossa é marcada por momentos extraordinários, de acúmulo de prazeres e alegrias, dissabores e acusações, às vezes, leviandades e acusações que temos de, humildemente, provar que não são verdadeiras", afirmou. "Mas penso que tudo isto significa para um jovem como você, apenas mais uma lição, um aprendizado, que, certamente, encaixou na sua consciência."
Num discurso de improviso, Lula lembrou a trajetória do "menino trotskista", que foi vereador, deputado estadual e federal e prefeito duas vezes de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo. "O que é importante é dizer exatamente no momento da tua saída que, certamente, entregaremos ao povo brasileiro um Brasil infinitamente melhor que aquele que nós recebemos, infinitamente melhor."
Com um discurso em que não escondeu a relação de pai e filho que sempre manteve com Palocci, o presidente avaliou que o ex-ministro sabe quais os passos que dará daqui para frente. Lula lembrou ainda da estranheza do mercado quando escolheu um médico para chefiar a economia e das tensões vividas na véspera da eleição de 2002 e na montagem do governo. "Para muitos empresários, deputados, senadores e economistas, o Palocci estava fadado ao fracasso, pois não era da área", afirmou. "Você, mais do que milhões de pessoas, tem motivos para se orgulhar."
Durante a solenidade, a relação de pai e filho ficou explícita ainda no longo abraço com tapas de Lula nas costas de Palocci e num rosto encostado no outro, que alguns viram como um beijo. "Se é verdade que nem todo irmão é um grande companheiro, é verdade que um bom companheiro é um grande irmão", afirmou o presidente.