Seis meses depois do acidente com a barragem de rejeitos da mineradora Samarco, em Mariana (MG), a empresa trabalha abaixo do necessário para fazer a limpeza provocada, o rio ainda está dez vezes mais sujo que o normal e um novo acidente pode ocorrer no período chuvoso.
A avaliação é da presidente do Ibama, Marilene Ramos, que afirma que, se os trabalhos da companhia -sociedade da Vale com a australiana BHP- não forem intensificados até o próximo período chuvoso, a água do rio poderá ficar ainda pior, prejudicando o abastecimento das cidades e a recuperação da fauna e da flora.
“A avaliação que faço é que a presença no campo está aquém da necessidade real para fazer frente ao quadro de destruição”, afirmou a presidente do órgão ambiental federal, que se reuniu nesta quarta-feira (4) com representantes de órgãos públicos e da empresa no Comitê Intergovernamental criado para tratar da recuperação do desastre.
Marilene Ramos citou como exemplo o reservatório de Candonga, um dos que foram afetados pelo acidente. Lá, era necessário dragar uma área de 400 metros de distância, partindo da barragem. Mas as dragas colocadas pela empresa, apenas duas, ainda estão a mil metros de distância e o trabalho determinado sequer começou.
Segundo ela, não há descumprimento de prazos pela empresa mas “observamos que se não for feito esforço maior os prazos não serão cumpridos”.
O trabalho nessa barragem é essencial porque ela conteve a maior parte dos rejeitos que vazaram. Se ela não for limpa, há risco de que 18 milhões de metros cúbicos, o que equivale a mais de metade dos 34 milhões de metros cúbicos que vazaram há seis meses, pode vazar de novo porque essa barragem está “no limite”, segundo Paulo Fontes, diretor de Biodiversidade e Florestas que participou de uma vistoria feita pelo órgão na região afetada na semana passada.
“Quando vier o próximo período chuvoso, a perspectiva é de carreamento de lama das margens dos rios até o Candonga, que vai pressionar a barragem e certamente ela não vai resistir”, disse Fontes, lembrando que a Samarco vem alegando que o atraso se deve ao período chuvoso na região e anunciou que mais uma draga vai trabalhar no local a partir dessa semana.
Como a limpeza das margens do rio ainda caminha devagar, a água do Rio Doce ainda tem turbidez (quantidade de partículas suspensas na água) em média dez vezes superior ao que se registrava antes do acidente. Com isso, há risco de que as cidades da região fiquem com o abastecimento de água comprometido se chover e houver carreamento.
Em Governador Valadares (MG), a maior cidade da região, a empresa foi autorizada a fazer uma nova adutora de 23 quilômetros para abastecer a região ao custo de R$ 150 milhões. Se ela não ficar pronta até o início do período chuvoso, a cidade ficará novamente ameaçada de desabastecimento.
Multa
Por causa do acidente, a Samarco recebeu uma nova multa do Ibama, agora de R$ 42 milhões. Foi a sexta da empresa; as outras cinco somavam R$ 250 milhões.
De acordo com o diretor de Proteção Ambiental do Ibama, Luciano Evaristo, essa nova multa foi por crime ambiental por causa da destruição de 835 hectares de Áreas de Proteção Permanente ao longo de toda a bacia. Isso equivale a cerca de 835 campos de futebol.
Segundo Evaristo, as cinco multas anteriores estão sendo contestadas pela Samarco e, após o órgão avaliar se a defesa da empresa merece ser acolhida ou não, elas terão que ser pagas e as informações criminais serão enviadas para que o Ministério Público Federal abra processos contra os responsáveis.
Conforme o diretor do Ibama, as multas são dadas independentemente dos acordos feitos pela empresa para a recuperação da área afetada. A empresa se comprometeu a gastar R$ 20 bilhões nessa recuperação.
Evaristo afirmou que as multas são baixas e não são reajustadas há 18 anos. De acordo com ele, o Ibama enviou proposta para que a lei seja atualizada, com a multa máxima, que hoje é de R$ 50 milhões, possa chegar a R$ 250 milhões, além da criação de uma supermulta de R$ 2 bilhões.