A última conversa por telefone foi rápida, coisa de 15 minutos, quando mãe e filha trocaram mensagens de saudades e novidades da rotina da casa, em Goioerê, no Noroeste paranaense. Passados exatos seis meses, as palavras de Carla Vicentiniainda estão na memória de Tânia, que ainda se emociona ao lembrar da conversa. "Ela tava com muita saudade de casa, mas a todo o momento dizia que não era para ninguém chorar porque ela estava realizando um antigo sonho", relembra a mãe.
O sonho era como de muitos brasileiros: fazer intercâmbio nos Estados Unidos para estudar inglês. Em 18 de janeiro, a estudante paranaense, hoje com 23 anos, embarcou e 22 dias depois, 9 de fevereiro, desapareceu depois de sair, por volta de 2h30, do Adega`s Bar e Grill, na Ferry Street, no bairro Ironbound, em Newark, no estado americano de New Jersey. Desde esse dia, não há qualquer notícia ou pista que desvende o sumiço de Carla Vicentini.
Recompensa aumenta
No último dia 25, a fundação Carole Sund/Carrington, criada para ajudar a encontrar pessoas desaparecidas nos EUA, anunciou uma recompensa no valor de US$ 5 mil para quem possa indicar uma pista que leve ao paradeiro da estudante. O valor, que estava em cerca de R$ 10 mil, praticamente dobrou. A iniciativa da fundação é uma das esperanças de Anthony Campos, que recentemente passou a ocupar o cargo de chefe de polícia de Newark.
"Não é possível, alguém deve ter visto a Carla saindo do bar e o que aconteceu com ela", acredita. "Eu peço para que as pessoas entrem em contato conosco, mesmo àquelas que estão em situação imigratória irregular, porque o objetivo agora é encontrar a Carla", completa Campos. Desvendar o mistério do desaparecimento da paranaense também tem sido uma tarefa difícil para o FBI a polícia federal dos EUA. A última investida dos agentes tem sido investigar autores de crimes em série, praticados na região onde Carla foi vista pela última vez, para tentar encontrar um elo com o caso da estudante. Apesar da política de não passar informações para não atrapalhar o andamento das investigações, um agente do FBI, que pediu para não se identificar, revelou por telefone, à reportagem da Gazeta do Povo Online, que trabalha com a suspeita de homem acusado de praticar estupros violentos próximo a Ferry Street.
"Em muitos casos observamos que as meninas não são mortas, mas são agredidas e deixadas nuas em áreas rurais desabitadas", explica o agente. O perfil das vítimas deste suspeito é parecido com as características de Carla: meninas de cor branca, pequena e saindo de bares na madrugada.
A nova linha de investigação foi confirmada pelo adido do FBI no Brasil, Daniel Clegg. "Como não tem uma pista concreta sobre o sumiço, o leque de opções aumenta", conta o agente. "Mas é preciso deixar claro: não há qualquer indício de que a Carla foi uma vítima deste tipo de crime", reiterou. A investigação do FBI não se restringe somente a este suspeito. De acordo com Clegg, até crimes em séries praticados em Nova Iorque estão sendo analisados, pela proximidade com Newark cerca de 40 quilômetros.
Novas entrevistas
Um segurança que trabalhava no Adega`s e uma amiga de Carla, até então desconhecida pelo FBI, devem ser entrevistados nos próximos dias pelos agentes. Os dois foram citados no depoimento do empresário francês José Fernandes Madeira Martins, 75 anos, ouvido no dia 14 de julho nos EUA. Martins foi uma das últimas pessoas a ter contato com Carla e quem sublocou o apartamento onde a estudante morava. Além destas, outras 50 entrevistas, segundo Clegg, estariam agendas para esta semana.
A verdade
"Este trabalho da polícia é a única arma que eu tenho. E mesmo que eles demorem mais seis meses para me dar informações eu nunca vou entregar os pontos. Só vou cruzar os braços quando souber a verdade sobre o que aconteceu com a minha filha", desabafa Tânia.
Entenda o caso Carla Vicentini
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