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“Se essa equipe [da Operação Verão] ficasse no litoral durante o ano, outros municípios teriam dificuldades de efetivo. Temos de nos adequar e brigar pela contratação de novos policiais" | Bianca Marchini / Gazeta do Povo
“Se essa equipe [da Operação Verão] ficasse no litoral durante o ano, outros municípios teriam dificuldades de efetivo. Temos de nos adequar e brigar pela contratação de novos policiais"| Foto: Bianca Marchini / Gazeta do Povo

Cronologia

O assassinato do delegado José Antônio Zuba de Oliva chocou a comunidade e os colegas e colocou a polícia de dois estados em uma verdadeira operação de guerra para captura dos acusados.

24 ago – Zuba, um funcionário da delegacia de Pontal e duas investigadoras vão até no camping Olho d’Água, no balneário Carmery, verificar uma denúncia sobre homens armados no local. Ao chegar, o delegado é baleado por quatro homens e morre na hora. O funcionário Adilson da Silva também é ferido e morre no hospital. As duas investigadoras são rendidas pelos assassinos, mas liberadas antes da fuga. Durante todo o dia, 150 policiais fecham as saídas do Litoral, com bloqueios nas rodovias, para capturar os fugitivos. Um deles é preso e os carros usados na fuga também são encontrados.

25 ago – O suspeito preso é transferido para Curitiba. Durante o depoimento, identifica os cúmplices: todos cariocas, fugitivos de Bangu 4. O grupo teria vindo ao Paraná para praticar assaltos a residências de luxo. A polícia divulga os retratos falados dos três fugitivos e mantém o cerco policial.

26 ago – Depois de abordado na praia de Coroados, em Guaratuba, um grupo de suspeitos troca tiros com a polícia e rouba uma viatura. Há perseguição pela rodovia em direção a Santa Catarina. Próximo a Joinville, eles invadem uma casa e fazem uma mulher de 62 anos como refém. Em novo tiroteio, dois fugitivos morrem e a mulher fica gravemente ferida. O terceiro suspeito se embrenha na mata. Helicóptero, viaturas, cães farejadores e mais de 200 policiais participam de uma operação de guerra em busca do fugitivo.

27 ago – A polícia amplia a área de buscas: vai até São Bento do Sul, distante 60 quilômetros do local onde ocorreu o tiroteio, no dia anterior. Os moradores da região são orientados a permanecer em casa. A Polícia Federal de Santa Catarina empresta equipamentos de detecção por temperatura corporal para realizar as buscas em matas fechadas. O fugitivo Paulo Tutancamon não é localizado.

Matinhos - O delegado Tadeu Bello responde agora por duas delegacias: a de Matinhos, onde é titular, e a de Pontal do Paraná, depois do assassinato do colega José Antônio Zuba de Oliva, morto na última terça-feira por traficantes cariocas, durante uma abordagem em um camping, em Shan­­gri-lá, no Litoral do estado.

O acúmulo de tarefas não é uma novidade na carreira de Bello. Em 2005, ele assumiu quatro delegacias do Litoral simultaneamente. E revezava com Zuba a responsabilidade por Pontal do Paraná e Matinhos nas férias e ausências programadas de ambos. Em entrevista exclusiva para a Gazeta do Povo, o delegado cita a falta de efetivo como um dos problemas na administração das unidades policiais, o que compromete a qualidade do trabalho. "O serviço acumula e a dedicação não é integral", diz. A dedicação integral é a pedra no sapato dos delegados da Polícia Civil no estado. A falta de profissionais faz com que muitos delegados acumulem mais de um município.

Policial há 28 anos – 16 como delegado – Bello é parte da força policial de uma região que precisa lidar com o número crescente de homicídios: só no primeiro semestre de 2010 foram 68 ocorrências, contra 42 no mesmo período do ano passado. Confira os principais trechos da entrevista.

A violência no Litoral é um dos reflexos do despreparo de policiais e da falta de infraestrutura e equipamentos?

A violência não é uma peculiaridade do Litoral. Em todo o país, os dados são alarmantes. As ocorrências aqui não são maiores do que em outros lugares. Há épocas de aumento de alguns tipos de delitos, mas o que cresceu foi a própria violência. Tínhamos muita criminalidade, porém não existiam casos como roubo, estupro e até mesmo um grande confronto com a polícia, como foi o caso do delegado Zuba. Na questão de equipamentos e material técnico, a Polícia Civil está bem servida. Na questão de efetivo, estamos defasados. Temos muitas aposentadorias e mortes, por combate e problemas de saúde. Tentamos suprir essas necessidades com criatividade. A delegacia de Pontal do Paraná era uma das que tinham menor efetivo, mas o delegado Zuba conseguiu montar uma equipe muito coesa. O que houve foi uma fatalidade. Não vejo como algo diretamente ligado à falta de policiais até porque Pontal do Paraná nunca teve uma ocorrência dessa relevância.

O aumento da violência no Litoral do estado não pode ser reflexo da falta de atenção do poder público com a região?

Há um conceito de que durante a temporada se faz uma vitrine e no restante do ano a polícia passa por dificuldades. Em épocas de temporada, a população aumenta e também cresce o número de marginais e de ocorrências policiais. Por isso, há a necessidade da Operação Verão. Porém, se essa equipe ficasse no Litoral durante o ano, outros municípios teriam dificuldades de efetivo. Temos de nos adequar e brigar pela contratação de novos policiais.

Como fica o atendimento de todas as ocorrências das delegacias de Matinhos e Pontal do Paraná?

Estamos tentando administrar as duas delegacias. Já tenho experiência, pois quando tirava férias, Zuba respondia por mim e vice-versa. Temos várias cidades do Paraná que não têm um titular, onde é o delegado da cidade-polo que administra. O ideal seria existir um delegado em cada cidade, com escrivães, investigadores e funcionários. Mas temos de ver que a realidade não é essa. Então, vamos realizar a tarefa com aquilo que é possível.

Por quanto tempo ainda será necessário acumular as duas delegacias?

Espero que pelo período mais breve possível, pois o serviço acumula e a dedicação não é integral. Em 2005 eu já respondi por Para­­naguá, Matinhos, Pontal do Para­­ná e Guaratuba. As emergências acontecem e temos de estar preparados para resolver e administrar essas situações.

Quais serão os próximos desafios depois do assassinato do delegado Zuba?

O maior desafio é me acostumar com a ausência do Zuba. Tínha­­mos um relacionamento muito próximo. Nesse momento em que estou respondendo por Pontal do Paraná, sei que é muito difícil dar uma resposta para a população. Zuba era um delegado diferenciado, extremamente operacional e isso traz uma responsabilidade muito grande, tanto para mim, quanto para o delegado substituto efetivo.

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