O líder sem-terra Valmir Mota de Oliveira, conhecido como Kenun, morto durante a reocupação da fazenda experimental Syngenta Seeds, em Santa Tereza do Oeste, na região Oeste do Paraná, era funcionário da Fundação da Universidade Federal do Paraná (Funpar).
Oliveira, segundo uma fonte da fundação, foi admitido em 1º de abril de 2007 como assistente administrativo do projeto Centro Colaborador - que tem convênio com a Funpar. No cargo, o sem-terra recebia quase R$ 3 mil por mês. Oliveira foi desligado da Funpar no último dia 21 - dia em que morreu no tiroteio que também terminou na morte do segurança da empresa NF Segurança - contratada pela multinacional. A assessoria da Funpar não comentou o caso e não soube detalhar o projeto Centro Colaborador. O superintendente da Funpar Paulo Afonso Bracarense Costa está participando de uma reunião fora do estado do Paraná e não foi encontrado.
Celso Ribeiro, coordenador da Via Campesina, foi procurado pela reportagem, mas a informação é que ele não quer falar com a imprensa - assim como a secretaria do movimento em Cascavel. Por telefone, Ramon Brizola, sem-terra acampado na fazenda, disse desconhecer o trabalho de Oliveira na Funpar. "Não sei disso. Tem gente do movimento que trabalha, mas não com esse salário. Até onde eu sabia, ele era agricultor", contou. A advogada do movimento, Gisele Cassano, também disse desconhecer o trabalho de Oliveira na Funpar.
A assessoria do MST, no entanto, informou que o movimento tinha ciência de que Oliveira trabalhava na Funpar, mas desconhecia o valor recebido mensalmente. "Sabíamos que ele recebia uma ajuda de custo, mas não R$ 3 mil". Ainda de acordo com a assessoria, o líder do sem-terra fazia um trabalho de "organização e capacitação dos agricultores assentados".
OAB vai processar Requião pelas duas mortes
A questão sobre as invasões de terra foi tema de um encontro que reuniu mais de 200 pessoas do meio empresarial e do agronegócio. A reunião aconteceu na Associação Comercial e Industrial de Cascavel (Acic) e teve como desfecho a decisão de processar o governador Roberto Requião (PMDB) - como pessoa física - pelos crimes de improbidade administrativa, por não impedir a tragédia ocorrida na Syngenta, e por prevaricação, por não cumprir mandados de reintegração de posse.
A sugestão de mover duas ações contra Requião foi dada pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e acatada pelas entidades presentes na reunião. Caberá à OAB encaminhar as ações. Esta não é a primeira vez que Requião é acionado como pessoa física na justiça em causa relacionada à Syngenta. Em junho deste ano, o juiz da 1.ª Vara Cível de Cascavel, Fabrício Priotto Mussi. determinou multa diária pessoal, de R$ 2 mil, caso o governador não autorizasse, dentro do prazo estabelecido, a reintegração de posse na Syngenta. Na ocasião, os sem-terra saíram pacificamente do local para evitar o prejuízo a Requião.
O diretor da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep), Tarcísio Barbosa, que esteve em Cascavel para o ato, disse que Requião "é o único responsável pelos crimes que aconteceram. Ele que incentivou as invasões, foi ele quem rasgou a Constituição ao querer desapropriar a área", disse.
Em nota divulgada no site oficial do governo do estado, o secretário estadual da Segurança Pública, Luiz Fernando Delazari, comentou a ação da OAB. "A OAB-Paraná é uma ferrenha defensora dos direitos humanos. Portanto, é absurda a postura divergente e particular da entidade em Cascavel quando tenta inocentar e proteger um bando de pistoleiros travestidos de seguranças particulares que espalham o terror no campo contrariando todos os preceitos dos direitos humanos", disse.
Ato Ecumênico
Enquanto a briga, mais uma vez, se encaminha para a justiça, a polícia segue a investigação sobre as causas e responsabilidades sobre as duas mortes ocorridas no processo de ocupação da fazenda, no domingo (21). Neste sábado, às 10h30, os sem-terra realizam na fazenda um ato ecumênico pelo sétimo dia da morte do sem-terra. No início da próxima semana, os integrantes do movimento devem iniciar o processo de plantação, principalmente, de mandioca.
O capitão Paulo Roberto Waltrick, da Polícia Militar, disse que o esquema de segurança será reforçado para evitar qualquer possibilidade de novos conflitos entre as partes durante o ato ecumênico. Nesta sexta-feira, uma equipe do Centro de Operações Policiais Especiais (Cope) esteve na fazenda fazendo uma vistoria. Segundo o movimento, nada foi apreendido. O delegado operacional Renato Bastos Figueroa, que assumiu o inquérito, só deve se pronunciar sobre o caso na próxima semana - depois de se interar sobre a investigação.
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