Cães farejadores, helicóptero e cavalaria. Esses foram alguns dos elementos utilizados pela Secretaria de Estado da Segurança Pública na estrutura de uma megaoperação lançada em Curitiba nesta quarta-feira (13). A iniciativa foi batizada de “Impacto” e deve contar com ações de prevenção e combate à criminalidade no município e Região Metropolitana pelos próximos 30 dias. O efeito de intervenções pontuais como essa gera discussão entre os especialistas de segurança pública. Afinal, a medida aumenta ou não a sensação de segurança do cidadão?
Para o professor de Direito Flávio Bortolazzi, da Universidade Positivo, a ideia de que o patrulhamento ostensivo aumenta a sensação de segurança pode ser estar equivocada. “Se por um lado as pessoas se sentem mais seguras, por outro, pode ser o contrário. As pessoas se sentiriam mais seguras com alguém armado por perto? ”, questiona.
A análise de Bortolazzi é de que o aparato das megaoperações atua mais no campo simbólico do que no real. Na opinião do professor, é como se a iniciativa ajudasse a mostrar a presença do Estado, ainda que por um curto período de tempo. “É mais no sentido de promover a instituição do que promover algo mais efetivo. É evidente que batedores de carteira não vão agir nesse momento”, observa. O argumento da atuação das forças de segurança de maneira integrada também costuma gerar, pontua Bortolazzi, uma interpretação de como é o trabalho cotidianamente. “Essas forças já não trabalham de forma integrada? ”, questiona.
O momento da execução da megaoperação também é questionado. “Qual a razão de ser agora o momento? Isso indica que existem saídas, mas que não são usadas permanentemente”, diz o professor de Sociologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Lindomar Boneti. Ele acredita que as grandes operações sejam necessárias, mas analisa que o resultado seria melhor se houvesse ações menos militarizadas. “Uma ação não exclui a outra, mas poderia ser com um modelo de segurança que envolvesse a população bairro a bairro, quarteirão a quarteirão”, propõe.
Já o coronel Urbiratan Ângelo, coordenador de Segurança Humana do Viva Rio e ex-comandante geral da Polícia Militar do RJ, por sua vez, sustenta que o impacto da megaoperação junto à comunidade representa o posicionamento do Poder Público sobre o cenário local. O resultado é a percepção do cidadão de que estão olhando por ele. Quando medidas não são tomadas, é comum que o morador sinta que é a próxima vítima da criminalidade. “É uma demonstração de força da segurança. Onde há presença de policiamento, haverá redução de alguns delitos, como furtos, ameaças e depredações”, pondera o coronel.
Ângelo avalia, contudo, que além de reduzir os problemas na segurança pública, é preciso eliminá-los. Para isso, observa, é preciso “desbaratar” quem os promove, ainda que se corra o risco de surgirem substitutos para os criminosos presos. Para serem efetivas, as megaoperações devem ser conjugadas entre a ponte e a inteligência da polícia”, ressalta. “A polícia prende, mas não evita que alguém se torne criminoso. Há crime porque há criminosos”, pontua o ex-comandante geral da Polícia Militar do RJ.
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