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Caso foi manchete da Gazeta do Povo em 30 de setembro de 1988 | Arquivo/Gazeta do Povo
Caso foi manchete da Gazeta do Povo em 30 de setembro de 1988| Foto: Arquivo/Gazeta do Povo

A história de um homem que sequestrou um avião para matar o então presidente José Sarney e de uma tripulação que agiu com coragem para evitar uma tragédia que acabaria com a vida de mais de uma centena de pessoas pode ganhar as telas do cinema. Essa é a missão do cineasta Constâncio Coutinho, que quer mostrar os detalhes do sequestro do voo 375, da extinta Vasp, ocorrido em 29 de setembro de 1988. No episódio, o copiloto Salvador Evangelista, que morava em Curitiba, morreu com um tiro na nuca.

INFOGRÁFICO: confira o trajeto do avião após o desvio pedido pelo sequestrador

VÍDEO: veja depoimentos de envolvidos no sequestro do voo 375

Na manhã daquele dia, um Boeing 737-300, com 93 passageiros e sete tripulantes, decolou de Belo Horizonte com destino ao Rio de Janeiro. Depois do serviço de bordo, o maranhense Raimundo Nonato Alves da Conceição, de 28 anos, se levantou em direção à cabine dos pilotos. Ele queria jogar o avião sobre o Palácio do Planalto e matar seu conterrâneo na presidência da República. Estava inconformado. Depois de trabalhar durante anos como tratorista para empreiteiras no Oriente Médio, o dinheiro que havia juntado com sacrifício e enviado ao Brasil não valia mais quase nada. Na época, a inflação era na casa de mil porcento ao ano. Em 1988, foi de 993%, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC).

Filha fala sobre o pai, morto na véspera do aniversário

“Eu estava esperando meu pai para comemorar meu aniversário de 8 anos, que seria 5 dias depois, mas ele nunca mais voltou”, conta a psicóloga Wendy Evangelista, hoje com 35 anos. Ela morava com os avós, em Curitiba, e o pai, o copiloto Salvador Evangelista, a visitava sempre que voltava das viagens. Filho único, Salvador deixou também uma mãe inconsolável. Wendy conta que a avó nunca conseguiu falar sobre a morte do filho. O copiloto está enterrado no cemitério Jardim da Saudade, na rua João Bettega, no bairro Portão. Ela espera ver o filme concluído, para que a história do pai ganhe as telas do cinema.

O sistema de segurança para o embarque não estava funcionando e o tratorista conseguiu entrar no avião com um revólver e 90 munições. Quando se aproximou da cabine, Raimundo foi abordado por um comissário de bordo, que levou um tiro de raspão. Ele então começou a atirar na fechadura da porta da cabine, que, à época, não era blindada. Sem escolha, o piloto Fernando Murilo Lima abriu a porta. Mas, antes disso, havia digitado um código para avisar a torre de controle de que o avião estava sendo sequestrado. Quando Raimundo entrou, comunicou que a rota mudaria. Iriam para Brasília.

Instantes depois, a torre faz contato com o avião e, quando o copiloto Salvador Evangelista fez menção de pegar o fone, Raimundo atirou contra ele, que morreu na hora. O avião começa a ser acompanhado por caças da Força Aérea. A ordem é abater a aeronave antes que se aproxime de Brasília. O piloto, então, faz uma manobra para confundir Raimundo. Entra numa nuvem e alega que não há condições de ver a capital federal. Fernando decide rumar em Goiânia.

Num movimento drástico para tentar derrubar o sequestrador, o piloto vira o avião de “barriga” para cima. A manobra não funciona. Com o combustível já acabando, Fernando faz uma última tentativa e inicia uma manobra em parafuso, em direção ao solo. Raimundo cai no momento em que Fernando vê a pista do aeroporto de Goiânia. “Além de voar com o colega morto ao lado, o piloto teve de fazer tudo sozinho na cabine”, comenta o cineasta. No momento em que pousa, o combustível acaba. O sequestrador se recupera e sai do avião usando o piloto como escudo. Eles são cercados por policiais e Raimundo é alvejado com dois tiros e morre no hospital, dois dias depois.

Arquivo/Gazeta do Povo

Filme

O cineasta Constâncio Coutinho soube dessa história ao tentar fazer um documentário sobre os bastidores de aeroportos e decidiu recolher depoimentos para contar o caso. Mas, percebeu que teria mais impacto se virasse um filme, com reconstituição e atores. Além da relevância da história, a justificativa para a filmagem é de que o caso é pouco conhecido – ou mesmo se perdeu na memória dos brasileiros, como tantos outros fatos marcantes. E fazer jus à coragem da tripulação. “Eles foram heróis que não estavam nos livros”, diz.

O projeto foi aprovado recentemente pela Agência Nacional de Cinema (Ancine), pela lei do audiovisual. Assim, Coutinho pode procurar empresários que devem imposto ao governo federal. Ele pode captar até R$ 3,75 milhões. Mas, ele ambiciona mais. Pretende buscar, com outras parcerias, o total de R$ 8 milhões para custear a produção. Ele até já conseguiu localizar um avião semelhante ao do sequestro, que custaria R$ 10 mil a diária de gravação. “A ideia é circular por várias salas de cinema no Brasil e também no mundo”, conta. O cineasta tentou entrevistar Sarney, mas não houve resposta para a várias tentativas. O ex-presidente também nunca ligou para o piloto para agradecer pelas manobras que evitaram uma tragédia maior.

Sequestro do voo 375 da VASP deve deve virar filme

Cineasta Constâncio Coutinho reuniu depoimentos para um documentário, mas decidiu fazer um filme com ator. No sequestro, morreu um copiloto que morava em Curitiba.

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