A noite mais violenta do ano na Grande São Paulo deixou ao menos 18 pessoas mortas e sete feridas nas cidades de Osasco, Barueri e Itapevi, em um intervalo de aproximadamente duas horas e meia. Os crimes ocorreram na noite desta quinta-feira (13), dentro de um raio de sete quilômetros.
Secretário diz que investigará suposta participação de policiais em chacina
Segundo ele, uma força-tarefa com 50 policiais está atuando nas investigações dos ataques que deixaram ao menos 18 mortos em três cidades da Grande SP
Leia a matéria completaPolícia encontra cápsulas de armas da Guarda Municipal em locais de chacina
De acordo com o secretário, esta é a maior chacina do ano em São Paulo, com ao menos 18 mortos em Osasco, Barueri e Itapevi
Leia a matéria completaAssassinos perguntavam por histórico criminal, diz prefeito de Osasco
Leia a matéria completaO número de mortos e feridos foi retificado pela secretaria de Segurança Pública à noite. Inicialmente, na madrugada, a PM havia informado 20 mortes.
Corpo fica 12 horas à espera de coleta pelo IML em Osasco
Segundo o secretário, foram 15 mortos em Osasco, três em Barueri e um em Itapevi. “Não descartamos nenhuma hipótese”, disse o secretário, que indicou que uma das linhas de investigação é a participação de policiais, após recentes mortes de um PM e de um guarda civil metropolitano na região dos assassinatos.
Cápsulas de três diferentes calibres de armas foram encontradas próximo aos corpos das vítimas: 9 mm (de uso da Polícia Militar) e 38 e 380, de uso de guardas civis metropolitanos.
Nos casos desta quinta-feira, as ações foram semelhantes. Homens encapuzados estacionaram um carro, desembarcaram e dispararam vários tiros contra as vítimas. Em alguns locais dos crimes, testemunhas disseram que os assassinos perguntaram por antecedentes criminais, o que definia vida ou morte das pessoas.
Em Osasco, no bairro Munhoz Junior, uma chacina deixou dez mortos em um bar, por volta das 20h30. Quatro das vítimas morreram no local e outras seis no Hospital Jardim Mutinga.
Cinco horas depois, quando a reportagem passou pelo local, vários moradores ainda olhavam assustados a cena do crime. Um homem que não quis se identificar disse que uma das vítimas trabalhava como auxiliar de indústria e costumava parar no bar para tomar um conhaque antes de ir para casa. Outra moradora falou que um dos baleados morreu sentado na cadeira, do lado de fora do estabelecimento.
No local, espantando diante da cena, um dos peritos da Polícia Civil disse: “Nunca vi uma noite com tantos mortos em São Paulo”. Várias equipes trabalharam durante toda a madrugada na investigação.
Ainda em Osasco, mas desta vez no Jardim Elvira, um jovem foi morto em frente a uma sorveteria. Três parentes gritavam e se abraçavam de desespero próximos ao corpo da vítima.
Mais à frente, a pouco mais de 5 km, o técnico de celulares Jorge Ferreira, de 31 anos, chorava baixinho a morte do único irmão. Davidson Lopes Ferreira, de 26, que fora encontrado morto com mais de dez tiros, na Vila Menck.
Segundo Ferreira, um amigo que acompanhava Davidson disse que conversava com uma pessoa quando ouviu o barulho de tiros. Em seguida, viu o amigo baleado e os assassinos fugindo em uma moto.
Ferreira lembra com tristeza que esta é a segunda vez que um parente é assassinado. “Quando eu tinha 13 anos meu pai também foi morto. Aí eu passei a cuidar do meu irmão. A gente morava no mesmo quintal.”
Outros ataques em pontos diferentes da mesma cidade deixaram mais cinco mortos e sete feridos.
Na vizinha Barueri, duas pessoas foram mortas a tiros em um bar, no Parque dos Camargos. O dono do bar disse que cerca de dez pessoas estavam no local, quando quatro homens, com toucas ninjas, desembarcaram de um carro.
Os assassinos perguntaram quem tinha passagem pela polícia e atiraram em duas pessoas. O restante dos clientes fugiu do local. O bar possui câmeras de segurança, e as imagens foram entregues à Polícia Civil.
Ainda em Barueri, outro homem foi assassinado na Vila Engenho Novo. Testemunhas disseram à Guarda Civil Municipal que ocupantes de um carro preto dispararam vários tiros contra a vítima.
Segundo a GCM, após a vítima cair no chão, os assassinos desembarcaram do carro e foram se certificar se ele estava morto.
Tanto em Barueri como em Osasco, os feridos foram levados pelo Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) a diferentes hospitais. Os mortos serão levados ao IML (Instituto Médico Legal) de Osasco. A Polícia Civil não confirma se os casos têm ligação.
Corpo fica 12 horas à espera de coleta pelo IML em Osasco
Estadão Conteúdo
Doze horas após os ataques, o corpo de Eduardo Bernardino César, de 24 anos, ainda permanecia sobre o asfalto, coberto por um lençol amarelo por volta das 9h30 desta sexta-feira (14). Testemunhas afirmam que ele foi alvejado ao menos quatro vezes por volta das 21h30 na Rua Eurico da Cruz.
“Era um trabalhador, nunca deu trabalho para a polícia. Saiu para comprar um salgadinho e não voltou”, disse uma tia da vítima. De acordo com testemunhas, ele foi surpreendido por duas pessoas em uma moto que passaram atirando. Os criminosos usavam capacete e ninguém conseguiu anotar a placa do veículo. César foi uma das 20 vítimas fatais de uma série de ataques violentos ocorridos na noite de ontem em Osasco e Barueri, em São Paulo.
Rodrigo de Lima Silva, de 17 anos, também está entre os mortos. Ele estava sentado de frente para a Rua Professor Sud Menucci, quando um carro prata encostou na calçada. De dentro, uma pessoa, usando touca ninja, saiu com a mão escondida na cintura. Outro ficou no carro. Sem dizer nada, o que saiu atirou duas vezes contra o jovem. Um tirou o acertou o olho; o outro, a boca.
Os vizinhos contam que Silva frequentava o local, onde jogava fliperama e tomava sorvete. Ele, que andava de bicicleta, esperava passar um caminhão para pegar carona na traseira, antes de ser assassinado. A mulher do rapaz está grávida de três meses.
“Ele vivia em casa, com a mulher que está grávida de 3 meses”, disse a irmã da vítima, Viviane Lima, de 27 anos. Silva era o caçula de seis filhos. A mãe, que velou o corpo na rua até as 9h30 desta manhã, saiu amparada por quatro pessoas, que a ajudavam a andar. Ela passou mal e precisou ir para o hospital. O corpo foi retirado da rua por volta das 9h30.
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