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Defesa vai tentar revogar prisão do coronel

O advogado Sílvio Micheletti, que representa o coronel Martins, disse que vai ingressar na Justiça com um pedido de revogação de prisão. A solicitação será feita ao juiz Pedro Luis Sanson Corat, que decretou a prisão temporária – por 30 dias – do suspeito. Segundo o advogado, a intenção é que o magistrado analise os fatos que vieram à tona após a apresentação do ex-comandante à polícia.

"Temos um vasto material, com testemunhas, álibis e documentos, que comprovam que o coronel não cometeu estes crimes", disse o advogado. "A prisão foi uma medida desnecessária, porque, em nenhum momento, o coronel dificultou ou impediu as investigações, até porque ele não sabia que estava sendo investigado", complementou.

Na sexta-feira (28), o coronel prestou depoimento à DH. Às autoridades, ele alegou inocência e apontou que o crime foi cometido por um policial militar, que teve um parente assassinado a golpes de chave de fenda, no bairro Boqueirão. "Esse caso do outro policial deve ter levado as testemunhas a associarem os crimes ao coronel", supôs o advogado.

Em um levantamento prévio, no entanto, a DH não encontrou nenhum registro de homicídio no Boqueirão, envolvendo familiares de policiais militares e ocorrido nas circunstâncias descritas. A polícia pretende aprofundar essas pesquisas.

Segundo Micheletti, o coronel está "abalado e abatido". Informações extra-oficiais levantadas pela Gazeta do Povo junto ao Corpo de Bombeiros dão conta de que Martins passou mal na madrugada desta segunda e que teve que ser atendido por seu cardiologista.

Três pessoas que sobreviveram aos ataques atribuídos ao ex-comandante do Corpo de Bombeiros do Paraná, coronel Jorge Luiz Thais Martins, e duas testemunhas dos crimes serão intimadas pela polícia a fazer o reconhecimento pessoal do suspeito. O procedimento é considerado uma prova mais consistente que o reconhecimento fotográfico, modalidade em que quatro pessoas – entre sobreviventes e testemunhas – já apontaram o coronel Martins como autor dos crimes. O ex-comandante é acusado de ter matado nove usuários de droga e baleado outros cinco, entre agosto de 2010 e janeiro de 2011, no bairro Boqueirão, em Curitiba.

A realização do procedimento deve obedecer ao que determina o artigo 226 do Código do Processo Penal. Inicialmente, a testemunha descreverá o suspeito à autoridade policial. Em seguida, em uma sala, o coronel será colocado perfilado ao lado de outras pessoas que tenham algumas características em comum. Em um anexo isolado de onde não poderá ser vista, a testemunha apontará para o suspeito.

"Cada sobrevivente ou testemunha fará o reconhecimento de forma isolada, uma pessoa por vez, sem que um tenha contato com o outro, impedindo qualquer comunicação entre essas pessoas", explicou o delegado Cristiano Augusto Quintas dos Santos, da Delegacia de Homicídios (DH).

O delegado informou que ainda não há uma data definida para que o reconhecimento seja realizado, mas já estão sendo feitas as "tratativas" com o Comando do Corpo de Bombeiros, responsável por manter o coronel preso enquanto vigorar a prisão temporária. "Vamos definir a logística deste reconhecimento: se é mais fácil realizá-lo em algum quartel dos Bombeiros ou aqui na DH", disse o delegado.

Defesa apresenta arma e celular do coronel

Responsável pela defesa do coronel, o advogado Sílvio Cesar Micheletti, entregou, nesta segunda-feira (31), a arma – uma pistola ponto 40 – que estava em poder de Martins. O celular do suspeito também foi entregue às autoridades. "Nós [a defesa] não temos nada a esconder. Esta arma sequer foi disparada", disse o advogado.

Após receber a pistola, a DH a encaminhou ao Instituto de Criminalística (IC), para que proceda com a perícia do armamento. De acordo com o delegado, a arma pertence ao Corpo de Bombeiros e estava em poder do coronel Martins desde 2006. O calibre da pistola corresponde ao encontrado nos quatro primeiros ataques dos quais o ex-comandante é suspeito.

A perícia vai se focar, principalmente, no confronto balístico, comparando se os projéteis encontrados em locais onde os crimes ocorreram foram disparados pela arma que estavam com Martins. "Ainda que o confronto balístico dê negativo, isso não afasta os indícios que apontam a autoria dos crimes ao suspeito. Temos outras provas nos inquéritos", ressalva o delegado.

Polícia vai investigar outras participações nos crimes em série

A DH vai aprofundar, a partir desta semana, as investigações sobre a participação de uma segunda pessoa nos atentados e se policiais militares participaram dos crimes, ainda que indiretamente. De acordo com o inquérito policial, no primeiro ataque – ocorrido no dia 8 de agosto – e no terceiro – no dia 10 de novembro – há relatos de que duas pessoas atiraram contra as vítimas. A polícia pretende ouvir novamente todas as testemunhas e sobreviventes dos atentados, para levantar mais informações sobre a co-autoria dos crimes.

A polícia também pretende apurar denúncias segundo as quais policiais militares teriam acobertado os crimes, repassando informações ao atirador e adulterando os locais dos homicídios.

Caso

Segundo o inquérito policial, são cinco ataques atribuídos ao coronel Martins. Nove pessoas morreram e cinco foram baleadas, totalizando 14 vítimas. Os crimes ocorreram entre o dia 8 de agosto de 2010 a 14 de janeiro deste ano. Todos os atentados ocorreram no bairro Boqueirão, próximo ao local onde o filho de Martins foi assassinado, em outubro de 2009. Os ataques começaram depois que dois usuários de drogas, suspeitos de ter matado o filho do coronel, foram postos em liberdade. Segundo a polícia, nenhuma vítima dos ataques têm qualquer relação com a morte do rapaz.

De acordo com fontes ligadas à polícia, ouvidas pela Gazeta do Povo, em todos os casos foram atacados grupos de usuários de droga ou pessoas que estavam em pontos tradicionais de encontro de usuários. Em apenas um dos atentados não houve sobreviventes.

Veja o mapa com a localização de cada crime

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