Abrigados em uma escola pública, moradores do Morro da Carioca que tiveram suas casas invadidas por água, terra, galhos e pedras procuram não perder a esperança de voltar para suas casas. Entre eles, há quem veio passar apenas férias em casa de parentes e acabou tendo que passar a virada do ano fugindo do perigo. Segundo o mais recente balanço do governo do estado, já chega a 30 o total de mortos na passagem do ano em Angra dos Reis.
Entre os visitantes, estavam os irmãos André e Silvana Felício, que vivem no município de Seropédica, na Baixada Fluminense. Os dois visitavam a avó e a tia quando a chuva destruiu a casa de uma delas. "A gente estava conversando, porque a luz tinha acabado. E aí começamos a escutar barulhos muito fortes, mas achamos que eram trovões", contou André, e a irmã completou:: "Foi horrível. Levou tudo, a casa toda. Um pesadelo". Os dois conseguiram sair de casa a tempo, assim como os seus parentes, graças ao alerta de vizinhos. Chovia sem parar havia dois dias Segundo os moradores que estão no abrigo, havia dois dias que chovia sem parar e muito forte. Por volta de 1h da sexta-feira (1º) a terra começou a cair do alto do morro, atingindo dezenas de casas. A maioria já estava em casa, alguns dormindo. "Me chamaram no quarto quando o muro da minha casa caiu. Depois vi a primeira casa no alto cair, e aí saí correndo", contou o aposentado Otoniel do Nascimento. Ele também ficou impressionado com o barulho que ouviu quando as pedras e lama começaram a cair.
Na casa de Gilberto Porto, a solidariedade dos vizinhos ajudou a salvar a vida de cinco crianças, quatro filhos e uma enteada. Ele contou que a água invadiu sua casa muito rápido. 'Mãe, me ajuda, não quero morrer'
A lembrança que ficou na memória da camareira Maria de Lourdes foi a filha mais nova, de 8 anos, com medo. "Ela gritava: mãe, me ajuda, não quero morrer aqui, foi um desespero", contou. A camareira estava em companhia de outras quatro filhas e da sua mãe, de 64 anos. "Fiquei na rua até clarear, ainda consegui voltar para pegar comida para minhas filhas. Depois vim parar aqui", disse.
Nas salas da escola, entre mesas e cadeiras, é possível ver colchonetes, e na cidade, carros de som pedem donativos para as vítimas da chuva.
O comandante dos Corpo de Bombeiros de Angra dos Reis, coronel Jerri Andrade, informou que os trabalhos de resgate de vítimas soterradas no Morro da Carioca foram suspensos no início da noite porque há risco de desabamentos na área. As ações serão reiniciadas assim que o dia clarear. Segundo ele, nesta sexta foram resgatados nove corpos do morro.
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