Estão aí os dados que não deixam mentir. Há pelo menos seis dias, Curitiba, a capital mais “cinza” do país, tem ignorado a personalidade melancólica pela qual é conhecida e presenteado seus moradores com muito sol e céu azul. O lado ruim disso é que a umidade do ar costuma despencar, o que prejudica a saúde das pessoas. Em Curitiba, por exemplo, o índice ficou em 43% nesta terça-feira (11), abaixo dos 60% recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Levantamento da Climatempo aponta que a capital paranaense tem tido dias ensolarados desde a última quinta-feira (6) . São, em média, nove horas de sol por dia, em uma configuração que vem crescendo desde o dia 25 de julho (um dia depois da última chuva registrada no município), quando, apesar do tempo seco, havia ainda a presença de nuvens encobrindo parte dos raios solares.
Situação intrigante para um local “desfavorecido” pelas barreiras geográficas e que, por isso, costuma ser ainda mais nublada que cidades como Londres (Inglaterra), Berlim (Alemanha) e Nova Iorque (EUA), por exemplo. No mês passado, dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) mostram que Curitiba teve nada menos do que treze dias em que o sol brilhou apenas duas horas ou menos.
E a notícia é boa para quem está curtindo o céu de brigadeiro constante na capital. De acordo com o Simepar, a previsão é de que o tempo permaneça bom por aqui até, pelo menos, meados da próxima semana, quando uma frente fria deve ganhar força e conseguir avançar sobre o Paraná, trazendo um pouco de chuva.
Até lá, os dias devem continuar convidativos para um passeio e as temperaturas, para um sorvete. O alerta é que com a atuação do bloqueio atmosférico que tem impedido mudanças no tempo não só no Paraná, mas também em boa parte do país, os cuidados com a saúde devem ser redobrados.
O tempo seco que paira sobre a região Sul, Sudeste e Centro-Oeste tem feito despencar os índices de umidade relativa do ar, o que pode aumentar casos de problemas respiratórios e alérgicos. Não custa lembrar: a Organização Mundial da Saúde (OMS) considera que índices que apontam a umidade inferior a 60% não são adequados para a saúde humana. Abaixo disso, os problemas respiratórios podem ganhar evidência, sendo que a partir de 30% já é considerado estado de atenção e abaixo de 20%, estado de alerta. De uma maneira geral, o tempo seco provoca o ressecamento das mucosas das vias aéreas superiores, como nariz e garganta, além de favorecer a desidratação e o surgimento de problemas oculares.
Em Curitiba, os índices mostraram, nesta terça, umidade em torno dos 43%. No Paraná, quem mais está sofrendo com a falta de umidade neste veranico são moradores da região Noroeste. Em Paranavaí, os índices de umidade relativa do ar chegaram, nesta terça-feira (11), a 25,5%, o que já é considerado estado de atenção. A cidade detém o recorde de baixa umidade do estado. Em 2013, os medidores marcaram no local 8,8%.
Assim como praticamente todo o estado, Londrina está há vinte dias sem chuva e, durante a tarde, tem uma variação de umidade entre 30% e 40%. Há possibilidade de que no próximo domingo (16), o índice no município chegue a 24%.
Desidratação
“A primeira coisa com a qual a gente tem que se preocupar é a desidratação. Com o tempo seco, as células que revestem o organismo perdem á agua com maior facilidade e, ao desidratar, acabam alterando suas funções. Aí é que surgem problemas nas mucosas, que ficam mais ressecadas, os olhos ficam irritados, a pele mais seca”, explica o médico pneumologista João Adriano de Barros, do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Barros alerta que, em casos mais graves, os males desencadeados pelo tempo seco podem até mesmo gerar problemas maiores, como infecções. “Tudo é uma sequência. Com a pele, por exemplo, a tendência é tomar banhos mais quentes e demorados. Aí ela começa a coçar, a pessoa arranha e entra uma bactéria que pode infeccionar o local”.
Por isso, a primeira e mais importante dica para evitar problemas típicos desta época do ano é a hidratação. Os bons e velhos dois litros de água por dia valem sempre, em especial para aqueles que estão nos grupos considerados mais suscetíveis a doenças causadas pela baixa umidade do ar: idosos, imunossuprimidos (pessoas em tratamento de câncer, transplantados, soropositivos) e crianças.