O transplante de medula óssea para tratamento de doença falciforme está liberado no País. O Ministério da Saúde publicou nesta quarta-feira (1) uma portaria que incorpora o uso da técnica no Sistema Único de Saúde (SUS). O procedimento, no entanto, somente será indicado para pacientes que tenham um doador compatível e que atendam critérios definidos por uma equipe de especialistas.
“Embora traga a cura para a doença, a técnica envolve riscos, daí a restrição nas indicações”, contou a pesquisadora da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto e integrante da Sociedade Brasileira de Transplantes de Medula Óssea, Berlinda Simões.
O coordenador do Sistema Nacional de Transplante do Ministério da Saúde, Weber Borba, estima que serão feitos entre 40 a 50 transplantes para pacientes com doença falciforme por ano. Na primeira etapa, a técnica será feita no hospital da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto e no Hospital Albert Einstein. A expectativa é a de que, com a formação de novas equipes especializadas na técnica, outros centros passem a ofertar o tratamento.
O Ministério da Saúde estima que existam cerca de 25 a 50 mil pacientes com doença falciforme no Brasil. De origem genética, ela faz com que glóbulos vermelhos de pacientes, em vez de serem flexíveis e circulares, sejam rígidos e num formato de foice. “Essas hemácias rígidas entopem os vasos, causam inflamações e dores muito fortes”, conta a professora.
A doença se manifesta já nos primeiros meses de vida. Bebês com o problema são irritadiços e choram muito. Nas crises de dor, pacientes precisam ser internados. Para evitar infecções, crianças são submetidas a um tratamento preventivo com antibióticos. Em outras etapas, são indicadas transfusões de sangue e quimioterápico.
O transplante de medula pode ser comparado com uma troca de fábrica. “Começa-se do zero. A produção passa a ser feita de forma correta”, compara a professora. Embora o tratamento seja muito promissor, especialistas ainda são cuidadosos na indicação da técnica. “Para fazer o transplante, o sistema de defesa do organismo é suprimido, aumentando os riscos de infecções”, conta a professora.
A técnica já é usada em outros países. Mas, de acordo com Belinda, em nenhum deles o transplante é indicado como a primeira alternativa para o tratamento da doença. A equipe de Belinda já realizou 23 transplantes no País, todos dentro de procedimentos de pesquisa. Do total, houve uma morte.
A Sociedade Brasileira de Transplante de Medula Óssea defende desde 2009 a incorporação da terapia no SUS. Borba admite que a adoção ocorre com atraso. “Mas o formato é seguro, fizemos tudo com muita cautela.”
A partir de publicação da portaria, o Sistema Nacional de Transplantes tem até 180 dias para incluir a doença falciforme em seu regulamento técnico. Poderão fazer o transplante pacientes que não respondam à quimioterapia e tenham alergias às transfusões.