Prédio histórico da UFPR| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

Moradora de um casebre próximo à Casa de Custódia de São José dos Pinhais, Elaine Souza Lima Farias nega ter recebido R$ 191 mil dos R$ 7,3 milhões desviados de bolsas de pesquisa da Universidade Federal do Paraná (UFPR). O Portal da Transparência do governo federal, porém, indica que ela recebeu o montante entre 2015 e 2016. Elaine é uma das 29 presas na Operação Research, desencadeada pela Polícia Federal (PF) quarta-feira (16).

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Elaine vive com o marido em uma casa em condições precárias de apenas três cômodos em um terreno com outras três famílias. Ela diz estar passando por um quadro de depressão e que os remédios afetaram sua memória. Por isso, afirma não se lembrar o valor exato que recebeu da UFPR. “Já fui [pesquisadora]. Mas não era esse valor [que eu recebi] não. Era um valor bem menor. Se fosse um valor desse, eu não estava morando numa casinha assim”, afirmou em entrevista à Gazeta do Povo antes da prisão. O jornal vinha apurando a suspeita de corrupção na universidade desde dezembro de 2016.

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Questionada sobre o tipo de pesquisa que fazia, já que não tem currículo acadêmico registrado em plataformas como a Lattes, Elaine ficou em silêncio durante 40 segundos e respondeu apenas que foi indicada pela servidora Conceição Abadia de Abreu Mendonça, uma das suspeitas de comandar o esquema de desvio e ex-chefe da Unidade de Orçamento e Finanças da pró-reitoria de pesquisa e pós-graduação (PRPPG) UFPR. “Foi a Conceição [que me pediu as pesquisas]. Faz muito tempo, não me lembro nem do ano certo. Foi uma indicação”, disse Elaine. Conceição Abadia de Abreu Mendonça é apontada pela Polícia Federal como a chefe do esquema, ao lado da também funcionária pública Tânia Marcia Catapan.

Segundo dados do Portal da Transparência do governo federal, Elaine recebeu quatro bolsas em três meses distintos de 2015, totalizando R$ 47.150 naquele ano. Foi em 2016, porém, que ela recebeu o maior valor: R$ 144 mil, divididos em 12 depósitos. Quatro foram apenas em agosto. Questionada se lembra de ter feito pesquisas ano passado, Elaine mostrou dúvida. “Acho que fiz em fevereiro só”, contou. “Eu recebia na minha conta. Eu assinava os recebidos e entregava pra ela [Conceição]. Faz muito tempo que eu conheço a Conceição. Mas era uma relação profissional só”, disse.

Laranja

O advogado Marlon Bizoni Furtado, que defende dez supostos bolsistas, entre eles Elaine Souza Lima Farias, e a servidora pública Tânia Márcia Catapan, afirmou que seus clientes foram laranjas na história. Segundo ele, essas pessoas assinaram procurações que acabaram sendo usadas para abrir contas e que a maioria sequer ficava com o cartão bancário dessas contas.

“Todas elas foram laranjas dessa situação. São pessoas humildes que receberam uma oportunidade para assinar procurações. Essas [procurações] efetivaram a abertura de algumas contas. Mas muitos deles nem sequer têm cartão da agência. Eles acabaram recebendo valores irrisórios para manter essa conta ativa, em alguns casos R$ 300”, disse Furtado.

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O advogado conta que esses bolsistas citaram Conceição Abadia de Abreu Mendonça, chefe da Unidade de Orçamento e Finanças da PRPPG no período em que o esquema se desenvolveu, como o contato delas na universidade. “Mas eles acreditam que ela também foi usada”, argumentou. Sobre a ex-secretária administrativa do gabinete da pró-reitoria de pesquisa e pós-graduação da UFPR, o advogado afirmou que o envolvimento dela é um equívoco. “Alguns documentos se deterioraram durante a ocupação estudantil e foram jogados fora. Ela não tem nada a ver com isso.”

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