O guineano Souleymane Bah, de 47 anos, que está internado no Rio de Janeiro sob suspeita de ter contraído ebola, manteve contato com muito mais pessoas do que as 68 estimadas pelo Ministério da Saúde. Ao dar entrada na Unidade de Pronto Atendido II, no início da noite de quarta-feira, em Cascavel, o paciente havia apresentado um endereço falso. Ontem, entretanto, a reportagem descobriu que ele estava hospedado em um albergue, onde conviveu com dezenas de pessoas. O resultado do exame que dirá se o guineano está ou não com a doença deve sair hoje de manhã, cerca de 24 horas após a coleta do sangue para o procedimento.
Desde 21 de setembro, quando chegou a Cascavel, Bah vinha passando as noites no albergue da Sociedade Espírita Irmandade de Jesus. A direção da casa não sabe quantas pessoas podem ter tido contato direto com o guineano, mas estima que sejam dezenas. Na noite anterior à internação, outras 22 pessoas entre os quais nove que provêm da Guiné pernoitaram no albergue. Por dia, o estabelecimento recebe entre 20 e 30 pessoas, que dormem em um único quarto coletivo.
"Não percebemos nada diferente no estado de saúde dele [de Bah]. Ele tinha boa aparência, estava sempre sorrindo. Enfim, não tinha nenhum aspecto de doente", disse a psicóloga do albergue, Fabiane Fauth Ferreira. Além dela, três atendentes, uma assistente social e uma cozinheira também conviveram com o paciente. "Um pouco de medo dá, mas temos esperança de que não seja nada", completou.
Na noite de ontem, a Vigilância Sanitária faria uma vistoria no albergue. Ao longo do dia, a direção recebeu uma série de orientações de procedimentos a serem adotados. A Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) deve fazer um novo levantamento das pessoas que estiveram com o guineano.
"O nosso pessoal está fazendo essa investigação e, se for necessário, vamos ampliar este monitoramento", disse o superintendente estadual de Vigilância em Saúde, Sezifredo Paz. Ele ressalta, no entanto, que o risco é maior para os que tiveram contato com o paciente após a manifestação dos sintomas. "De acordo com a literatura, quem esteve antes, não há grandes problemas", informou. Quem conviveu com Bah deve procurar a unidade de saúde mais próxima.
Pela contagem anterior, o Ministério da Saúde estimava que Bah tivesse contatado 68 pessoas: 30 funcionários da UPA, 24 pacientes e 14 acompanhantes. Todos serão monitorados por 21 dias, que é o período de incubação do vírus.
O albergue da Sociedade Espírita Irmandade de Jesus funcionou normalmente na noite de ontem. Como de costume, os usuários começaram a chegar no fim da tarde entre eles, quatro guineanos que ficaram alarmados com o risco do ebola ter chegado ao Brasil. O clima era de incredulidade. "Ele é um cara forte, que gostava de dar risada e tratava todo mundo bem", disse o pintor Otávio da Silva, que costuma passar as noites no local.
Desde ontem de manhã, Bah está internado no Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Nas últimas semanas, os infectologistas da instituição foram treinados para lidar com a doença. Ainda no início da noite de ontem, o Ministério da Saúde informou que o guineano não apresentava febre ou outros sintomas típicos da doença e tinha quadro estável. Mesmo se o primeiro exame der negativo hoje, um segundo deve ser realizado para descartar de vez a suspeita.