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Metáforas para dinheiro

Em escutas telefônicas, muitos dos investigados conversam em códigos. Veja a seguir algumas expressões que, segundo a PF, teriam sido usadas pelos investigados na Operação Furacão para se referir a dinheiro. A operação desarticulou em abril uma quadrilha que comprava decisões judiciais para favorecer casas de bingo e máquinas caça-níqueis.

• Oxigênio: utilizada pelo juiz do Tribunal Regional do Trabalho Ernesto Dória em conversa com Jaime Dias, preso pela Operação Furacão. O juiz cobra um valor: "Aquilo ali é meu oxigênio, pelo amor de Deus! Pelo menos mais um mês, que eu tô morto, tô com falta de ar". Dias é mais explícito: "Aquele negócio que vem sempre por mês deu problema lá".

• Material de campanha: expressão utilizada pelo policial Marcos Bretas, um dos presos pela Operação Furacão, em conversas com candidatos e assessores. A PF apurou que se trataria de referência a repasse de dinheiro.

• Decisões: em uma conversa, Bretas pede ao interlocutor o telefone de contato de uma deputada estadual para "levar as decisões". Para a PF, seria dinheiro para campanha.

• Carvão: aparece na conversa entre Jaime Dias e o sócio de um bingo, sobre negócios. Jaime diz que ainda não havia chegado o "carvão".

• Elogio: Um interlocutor conversa com Marcos Bretas sobre a inclusão de nomes em uma "lista para mandarem o elogio".

• Paetês: Bretas diz a um interlocutor que, se ele quiser saber dos "paetês", "vai ser liberado hoje". O diálogo ocorre três dias antes do sábado de carnaval.

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Com o aumento de investimentos por parte do Governo Federal, número de presos em ações da PF aumenta de 703, em 2004, para 2.673, em 2006. Além disso, a Polícia Federal tem dado maior atenção à capacitação de seus agentes e voltado seu principal foco para a descapitalização dos grandes grupos criminosos, sufocando os "dinheirodutos".

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Curitiba – O sucesso da Polícia Federal nas operações de combate à corrupção está ligado ao uso cada vez mais intenso de técnicas de inteligência e da tecnologia, das quais a ferramenta mais eficiente é a escuta telefônica, feita sempre com ordem da Justiça. "Nunca se usou tanto a interceptação telefônica autorizada como se usa hoje", diz o promotor Fábio André Guaragni, professor de Direito Penal das Faculdades Curitiba.

Nesse caso, a evolução da tecnologia favorece a investigação – os equipamentos disponíveis hoje em dia têm capacidade de vigiar maior número de linhas –, e a disponibilidade de verba ajuda muito. "Até pouco tempo atrás, os órgãos públicos não tinham capacidade operacional", diz Guaragni.

Essa capacidade atual é resultado de investimentos (o orçamento do Departamento de Polícia Federal cresceu de R$ 301 milhões, em 1997, para R$ 803 milhões previstos para este ano), mas também de apoio político. O cientista político Carlos Magno Bittencourt, professor da PUCPR, afirma que a instituição nunca teve tanto apoio quanto no governo Lula. Ele elogia a maneira de atuação nas operações. "Não vemos um tiro, uma pessoa ferida, tudo agora é baseado na área de inteligência. Os agentes conhecem o seu inimigo, suas rotinas e seu potencial de reação", observa Bittencourt.

O delegado Getúlio Bezerra, diretor de combate ao crime organizado da PF, garante que o principal fator é a formação de pessoal e a doutrina da polícia, que passou a priorizar o trabalho de inteligência investigativa. "Nós focamos nossos esforços nos grandes grupos criminosos que visam o crime financeiro e trabalhamos para descapitalizá-los, para que assim percam seu meio de ação corruptiva", diz. A técnica, portanto, é sufocar os "dinheirodutos" para que o crime organizado não possa corromper ninguém.

Fortalecimento

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O trabalho conjunto com o do Ministério Público, iniciado há três anos, tem fortalecido a ação policial. Unindo suas frentes de investigação, as instituições conseguem tecer uma rede maior e mais coesa de atuação com o uso de diferentes tecnologias. Além disso, a PF depende do parecer do MP sobre os inquéritos policiais. Caso o ministério julgue que não há provas suficientes para fazer uma denúncia à Justiça, todo o trabalho investigativo vai por água abaixo, já que não haverá processo judicial, penal ou administrativo contra os investigados. Ainda com o apoio do MP, a polícia consegue com maior facilidade as quebras de sigilo e mandados de busca e apreensão concedidos pela Justiça Federal.

Para o presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), Antônio Carlos Alpino Bigonha, o controle externo da administração feito pelo Ministério Público é crucial para que dar início às investigações e levá-las a bom termo. "O controle externo é um fator de modernização e avanço para a polícia", afirma.

Uma sombra, no entanto, obscurece os resultados. A Ordem dos Advogados do Brasil é uma das instituições que se opõem à exposição pública das pessoas indiciadas. Para o presidente da seção Paraná, Alberto de Paula Machado, a maneira como os nomes são levados a público equivale a uma pré-condenação. "O fato de que queremos permitir que as pessoas se defendam, de maneira alguma pode significar que estejamos querendo diminuir a eficiência da polícia", ressalva.