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Biguaçu (SC) - Em Santa Catarina, o aposentado Francisco Alves, 74 anos, passa a noite acordado por causa da chuva. Durante a madrugada, vai até o riacho que passa perto da sua casa medir o nível da água e já colocou uma barreira de madeira para evitar que o lodo entre na sua casa, em caso de enchente: "É uma tristeza ca­­da vez que ronca uma trovoada". A vendedora Rosicléia Souza também não consegue dormir. No último sábado, a casa dela foi danificada pela chuva de granizo, as­­sim como outras 500 residências da sua cidade. "Foi apavorante", diz ela, que mora com três filhos pequenos.

Francisco e Rosicléia vivem a mesma situação, mesmo a 100 qui­­lômetros de distância. Em Santa Catarina, o temor em relação ao mau tempo não está localizado. Dos 293 municípios do estado, 78 registraram eventos adversos nesse fim de semana, como alagamento, enxurrada e vendaval.

Francisco mora no Morro do Baú, em Ilhota, região mais afetada pelas chuvas de novembro de 2008, que vitimaram 137 pessoas em Santa Catarina. Ele tem medo de deslizamento de terra. Já Rosi­­cléia tem mais medo do granizo. Ela vive em Biguaçu, uma das cidades mais afetadas pelo granizo que caiu no último sábado. Foram cinco minutos de precipitação de pe­­dras de gelo, que danificaram 500 casas da cidade e desabrigaram 2 mil pessoas. Com reparos improvisados – uma lona preta e fitas pa­­ra tampar os furos nos telhados –, essas famílias voltaram para suas casas, mas não se sentem seguras.

A previsão é de mais chuva no estado. Deve chover de forma mo­­derada a forte, com trovoadas, en­­tre a noite de hoje e amanhã. Se­­gundo o instituto Epagri/Ciram, os últimos dois meses foram com chu­­vas frequentes e acima da mé­­dia, o que deixou o solo úmido e extremamente vulnerável a deslizamentos. Em 24 horas, municípios como Florianópolis, Blu­­menau e Itajaí registraram chuvas esperadas para um mês inteiro.

"A preocupação é grande. Há ae­­ronaves prontas para serem acionadas", diz o coordenador da Defesa Civil de Ilhota, Paulo Drum. No Morro do Baú, 1,8 mil pessoas foram atingidas pela chuva que começou no sábado – 122 tiveram de sair de suas casas. Drum ex­­plica que os moradores são retirados em caso de necessidade ex­­trema. A maioria das pessoas que saiu das suas casas foi atingida pela chuva do ano passado. "A percepção de risco está mais aguçada. An­­tes de novembro de 2008, não ha­­via essa preocupação porque nunca tinha acontecido", conta. Drum descarta, por enquanto, que a chuva desse ano cause os mesmos da­­nos da de 2008. Segundo o Epagri/Ciram, na comparação de setembro de 2008 com o de 2009, as chuvas desse ano foram mais intensas em todas as regiões do estado.

Tanta chuva deixa a costureira Tânia Regina Aragão, que mora no Morro do Baú, apreensiva. Ela co­­meça a tremer quando caem os primeiros pingos, que dessa vez destruíram a pequena ponte que passava na frente de sua casa: "passei oito meses em abrigo. Não quero isso de novo."

Morte

Um homem morreu afogado on­­tem ao deixar sua casa a nado em área inundada em Taquara (a 73 quilômetros de Porto Alegre). Es­­sa foi a terceira morte desde sábado no Sul em decorrência das chu­­vas – a segunda no RS, onde há outas duas pessoas desaparecidas. Segundo a Defesa Civil gaúcha, Darci Assunção, 44 anos, havia ignorado um alerta pa­­ra deixar o local na véspera. Ele vivia próximo a um balneário da cidade, onde o Rio dos Sinos ficou 7,8 metros acima do normal.

A outra morte foi registrada em SC, o estado mais afetado pelas chuvas. Clóvis Belin, 30 anos, morreu anteontem ao tentar atravessar, de carro, uma ponte alagada em Campo Belo do Sul. Na região, ao menos 420 mil pessoas em 127 municípios sofreram transtornos pelos temporais. Cerca de 11 mil ainda estavam fora de casa até ontem – em Santa Catarina são 6 mil desalojados e desabrigados em 72 municípios.

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