Um balanço feito com dados das defesas civis dos quatro estados brasileiros mais castigados por temporais desde dezembro do ano passado mostra que 885 pessoas morreram por causa das chuvas em Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Santa Catarina. Número que tende a aumentar, já que pelo menos 541 pessoas continuam desaparecidas depois da enxurrada que varreu a região serrana do Rio de Janeiro. Esse é o resultado de uma tragédia anunciada que poderia ter sido minimizada, poupando centenas de vidas.
Para o presidente do Conselho Regional de Arquitetura, Engenharia e Agronomia do Rio de Janeiro (Crea-RJ), Agostinho Guerreiro, 80% das 838 mortes na região serrana do Rio seriam evitadas se as prefeituras das cidades afetadas respeitassem a legislação ambiental do país. "Técnicos apuraram que o desmatamento fez a velocidade da cabeça-dágua atingir mais de 100 km/h em alguns trechos", afirmou ontem, ao apresentar um estudo feito na área.
O documento recomenda a retirada da população de morros com inclinação superior a 45 graus, o que caracteriza crime ambiental. O Crea-RJ sugere ainda um conjunto de obras de baixo custo para evitar a repetição da tragédia. "São intervenções simples nas encostas e pequenas barragens no alto dos rios para controlar a velocidade e o volume das águas", disse Guerreiro. Nos rios, os engenheiros sugerem pequenas e médias barragens nas nascentes.
Além da negligência do poder público sobre a ocupação de morros, as moradias nas margens dos rios também foram consideradas agravantes para a tragédia. O relatório indica que as habitações favoreceram a erosão e o assoreamento, que agravaram o transbordamento dos rios.
Nova Friburgo, que enfrenta uma das piores situações no Rio, tem um exemplo de que mortes poderiam ser evitadas. Uma ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público (MP) em 2009 tentava minimizar a tragédia anunciada. A ação mencionava o risco de deslizamentos, desabamentos e inundações na comunidade bairro Floresta. Uma liminar do mesmo ano determinava o levantamento das áreas de risco no município. Entretanto, o MP afirma não ter notícias de que a decisão teria sido cumprida até hoje. Somente após as tragédias algumas casas estão sendo demolidas.
Segundo a Defesa Civil do Rio, mais de 20 mil pessoas estão desalojadas e desabrigadas em apenas sete municípios da região Petrópolis, Teresópolis, Nova Friburgo, Bom Jardim, São José do Vale do Rio Preto, Areal, e Sumidouro. Ao todo, 72.355 pessoas foram afetadas pelas chuvas, segundo o órgão.
Santa Catarina
Um a cada quatro municípios catarinenses foi prejudicado pelas chuvas que atingem o estado desde o início da última semana. Ao todo, 73 das 293 cidades foram afetadas pelos temporais 60 decretaram situação de emergência e Mirim Doce está em estado de calamidade pública. Segundo a Defesa Civil catarinense, quase 26 mil pessoas continuavam alojadas ontem em casas de parentes ou abrigos provisórios. São 921 mil catarinenses afetados de alguma forma.
Até ontem, os prejuízos causados pelas chuvas em Santa Catarina superavam R$ 413 milhões, segundo o secretário estadual de Infraestrutura, Valdir Cobalchini. Até agora foram anunciados R$ 80,6 milhões para obras emergenciais e R$ 333 milhões devem ser repassados aos municípios atingidos.
Minas Gerais
Já em Minas Gerais, o número de cidades em emergência por causa da chuva chega a 102. Itamarandiba, no Vale do Jequitinhonha, e Soledade de Minas, no sul do estado, foram as últimas cidades a decretar a situação. Na primeira, seis pontes foram destruídas e 20 danificadas. O prejuízo no município é estimado em R$ 1,5 milhão.