Funcionários
À beira de um ataque de nervos
Em um dos consultórios que atendem motoristas, cobradores e seus familiares de Curitiba e região, a psicóloga Maria das Graças Fernandes de Souza recebe cerca de 30 pacientes por mês. E o pedido de ajuda chega difícil, por meio de um afastamento temporário da atividade. "Há uma crença na classe de que assaltos e outros tipos de violência são normais, fazem parte da rotina, por isso têm de ser aturados."
Ela diz que em um ambiente cada vez mais estressante, o trabalhador demora a se conscientizar da necessidade de tratamento. "É um sentimento de culpa e impotência que vai crescendo a medida que o trabalhador também não se abre e vai guardando toda a carga emocional dentro de si." Para fugir do mundo lá fora muitos se voltam para si e entram em depressão. A Síndrome do Pânico é outro problema comum entre os que sofreram com a violência. "Peço que cuidem da alimentação, do sono e do lazer. É um tratamento de longa duração. Mas é difícil porque eles têm de sustentar suas famílias e não querem parar, depender de INSS."
O ano de 2010 soma 1.071 assaltos a linhas e estações-tubo da capital paranaense e um rombo de R$ 136 mil no transporte coletivo, segundo dados do Sindicato dos Motoristas e Cobradores nas Empresas de Transportes de Passageiros de Curitiba e Região Metropolitana (Sindimoc), uma média de 8,6 assaltos por dia. É a mesma do ano passado, quando ocorreram 3.144 assaltos e um furo de R$ 339 mil, e maior que as de 2008 e 2007, que tiveram média diária de 7,07 e 6,92 assaltos/dia, respectivamente. Casos de pula-catracas e intimidação também fazem parte da rotina de medo com que os passageiros têm de conviver em alguns dos 1.910 ônibus e 364 estações-tubo da cidade, como a linha Alferes Poli, que vai do Centro da cidade à estação Fanny.
Em 2002, antes do início do levantamento e do trabalho do Grupo Tático Velado (GTV), do Comando de Policiamento da Capital, que atua na segurança do transporte coletivo da capital paranaense e região, o número era ainda maior, mais de 6 mil assaltos por ano.
A maioria das ocorrências está relacionada ao tráfico de drogas. "Cerca de 90% dos bandidos são usuários que veem nos ônibus a oportunidade do dinheiro fácil para comprar crack e outras substâncias", diz um dos diretores do Sindimoc, responsável pelo levantamento, José Carlos Mesquita. A introdução do cartão-transporte em 2002 não ajudou. "A maioria dos passageiros ainda usa dinheiro, o que faz dos ônibus verdadeiros bancos 24 horas de bandido."
O comandante do GTV, o tenente Lucas Guimarães, explica que as informações dos assaltos e outras ocorrências são passadas diariamente pelas empresas de ônibus e sindicatos, com as características dos criminosos, tipo de armamento, etc. Em 2009, 402 pessoas foram detidas nas operações do grupo e 71 armas de fogo foram apreendidas dentro de ônibus e terminais de Curitiba e região. Maconha (2,6 quilos) e cocaína (875,5 gramas) foram confiscadas, mas a droga que mais aparece é o crack: 686,22 gramas e mais 1.654 pedras. Neste ano, de janeiro ao início de maio, 11 pedras, 126 pessoas detidas e 12 armas recolhidas (uma branca).
A Linha do Trabalhador, da Viação Campo Largo, está no ranking das mais assaltadas. O encarregado do tráfego da empresa, Nelson José Ribas, conta que a maior parte dos incidentes ocorre à noite e próximo de bolsões de pobreza, como a Vila Verde, que faz parte do trajeto do ônibus. "É um problema que não acaba. A polícia tira um bandido de circulação hoje, aparece outro amanhã." Segundo Ribas, os assaltos, normalmente, não são motivo para motoristas e cobradores evitarem a linha. "Isso só ocorre quando um deles é ameaçado ou faz o reconhecimento de um bandido a pedido da polícia."
O tenente Guimarães reconhece que muitas das operações do GTV têm efeito temporário e acredita que a violência no transporte coletivo de Curitiba não terá fim enquanto locais com péssimas condições de sobrevivência existirem. "Não é um trabalho só da polícia, mas das secretarias de Saúde, do restante do poder público e da sociedade como um todo.
Pula-catracas
Boa parte de quem fura a catraca é de estudantes, adolescentes que se juntam no fim da aula para invadir uma estação-tubo ou terminal e pegar o ônibus "de graça". Em uma das últimas operações do Grupo Tático Velado, em abril, 61 jovens, estudantes das escolas estaduais Maria Aguiar Teixeira e República do Uruguai, no Jardim Botânico, foram flagrados em um tubo da Avenida Presidente Affonso Camargo e encaminhados à Delegacia do Adolescente. Os "comandantes" da algazarra terão de pagar cestas básicas e os demais prestarão serviços comunitários.
De acordo com o tenente Lucas Guimarães, que comanda o GTV, multas e prestação de serviços à comunidade são as punições mais frequentes para os crimes de menor potencial ofensivo, como vandalismo e o não pagamento da passagem.
Prejuízo
A Urbs estima que cerca de mil passagens deixam de ser pagas por dia uma falha de cerca de R$ 48 mil na arrecadação que poderia ser usada na melhoria do transporte coletivo. Já a conta do vandalismo, de vidros quebrados a bancos danificados, chega a R$ 300 mil por ano, segundo o Sindicato das Empresas de Ônibus de Curitiba e Região Metropolitana. Durante o ano passado, quando foi feita uma campanha antivandalismo, o número baixou cerca de 80%, mas voltou a aumentar logo depois.
RMC
Embora Curitiba concentre a maior parte dos assaltos, segundo o GTV, alguns municípios da região metropolitana têm se mostrado locais recorrentes de violência no transporte coletivo. O tenente Guimarães aponta São José dos Pinhais, Fazenda Rio Grande, Piraquara, Almirante Tamandaré e Colombo.
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