Terminou às 19h30 desta terça (23) o segundo dia de julgamento do casal Nardoni, no Fórum de Santana, na zona norte de São Paulo. O terceiro e último depoimento desta terça foi do perito baiano Luiz Eduardo Carvalho Dórea, que durou cerca de 30 minutos apenas. As outras duas testemunhas ouvidas foram o médico-legista Paulo Sérgio Tieppo Alves, ouvido por três horas, e a delegada Renata Pontes, que foi interrogada pela manhã. A mãe de Isabella, Ana Carolina Oliveira prestou depoimento nesta segunda.
O perito criminal analisou manchas de sangue encontradas na cena do crime, como em lençóis no quarto de onde Isabella foi jogada na noite de 29 de março de 2008. Segundo ele, "existem padrões de mancha que permitem estabelecer a altura" da qual ela caiu. De acordo com ele, pela análise é possível concluir que as gotas no local do crime caíram de uma altura superior a 1,25m. Ele também falou sobre o trabalho de uma perita baiana, contratada pela defesa, cujo parecer técnico consta no processo. Segundo ele, o trabalho é uma distorção do trabalho feito por ele.
Com relação a isso, uma das advogadas de defesa do casal, Roselle Andrade Soglio, afirmou "que o trabalho da doutora Delma (Gama) foi desconsiderado por completo" pelos novos defensores do casal, que entraram no caso depois de que este parecer já constava do processo.
A advogada perguntou sobre outras manchas que constam do processo e o perito analisou-as próximas aos jurados. Ele chegou à conclusão de que as manchas também caíram a uma altura superior a 1,25m. Uma jurada fez uma pergunta ao perito - se era possível dizer se as manchas nos lençóis foram produzidas em movimento ou parado - e ele respondeu que foram em movimento.
O perito baiano foi arrolado como testemunha surpresa pela acusação. O nome dele chegou a ser confundido com o de um PM que havia sido um dos primeiros a chegar ao Edifício London no dia do crime. Ele será a terceira das quatro testemunhas que vão prestar depoimento nesta terça-feira (23). A outra testemunha que seria ouvida ainda neste segundo dia de julgamento, a perita Rosângela Monteiro, prestará depoimento nesta quarta-feira (24).
O site G1 apurou que ele foi consultado pelo Ministério Público, com relação ao laudo feito pela baiana Delma Gama, a pedido da defesa. Ele encontrou, na análise que foi entregue pela perita, trechos escritos por ele em um de seus livros e colocados em contexto diferente. A intenção da acusação é, portanto, desacreditar a análise dos advogados do casal Nardoni.
Dórea já foi diretor geral da Polícia Técnica da Bahia e atualmente trabalha na Secretaria de Segurança Pública do Estado. Perito conceituado, ele tem livros lançados e costuma viajar para dar aulas a policiais técnicos de todo o país.
Vítima sofreu agressão e foi jogada pela janela, diz médico-legista
O médico-legista Paulo Sérgio Tieppo Alves foi a segunda testemunha que prestou depoimento neste terça-feira (23). O interrogatório dele começou por volta das 15h45, após o recesso de almoço, e terminou por volta das 18h45.
Ele relatou que a violência que ocorreu antes da queda da menina Isabella do sexto andar do Edifício London foi mais determinante para a morte do que a própria queda. Na primeira parte do depoimento, Tieppo respondeu às perguntas da Promotoria. Ele afirmou que a menina foi agredida na sala do apartamento do casal e depois atirada pela janela. O médico mostrou as fotos com as lesões, o que fez a avó da garota, Rosa Oliveira, sair da sala. Ele disse que a menina possuía "todos os indícios" de asfixia. Dessa forma, quando caiu da janela, já estaria praticamente morta.
Tieppo Alves detalhou todo o processo de necropsia. O promotor Francisco Cembranelli fez perguntas específicas ao legista para tentar frisar pontos que eliminem dúvidas sobre o que considera um crime. Questionou, por exemplo, a presença de marcas de unhas na nuca e lesões na boca e no rosto. Segundo ele, esses detalhes comprovam que houve esganadura.
Ele contestou a ideia de que houve falha na certidão de óbito, em que consta causa nao identificada de morte. De acordo com o médico, a maioria dos registros expedidos pelo Instituto-Médico Legal (IML) sai com essa informação até que todos os exames estejam prontos.
Além disso, Alves atacou um dos argumentos da defesa. De acordo com os advogados de Anna Carolina Jatobá e Alexandre Nardoni, a tese de esganadura é frágil, porque o osso que fica entre o pescoço e a mandíbula não se rompeu. No entanto, ele disse que em crianças com a mesma idade de Isabella esse osso é flexível como uma cartilagem. Delegada comprova asfixia e esganadura
Pela manhã, a delegada do 9º Distrito Policial, Renata Pontes, prestou depoimento e afirmou que Alexandre Nardoni, acusado de matar a filha Isabella, questionou o trabalho da perícia desde a noite do crime. Renata Pontes, que acompanha as investigações desde a noite de 29 de março de 2008, foi a segunda testemunha a ser ouvida. Seu interrogatório durou cerca de 4 horas.
A delegada disse que esteve presente no prédio onde o casal Nardoni morava, na noite do crime, e que não encontrou com Alexandre ao chegar no local. Ela, então, conversou com seis moradores do condomínio que disseram que o pai de Isabella havia informado que o apartamento tinha sido arrombado.
Ela relatou ainda que, depois, Alexandre chegou ao prédio acompanhado do pai, Antônio Nardoni, e questionou o trabalho feito pela polícia. Ele teria perguntado: "Já prenderam o ladrão? Já pegaram as impressões digitais?" Ela falou que embora Alexandre tenha afirmado que o apartamento tivesse sido invadido, ele não contou isso à polícia quando prestou depoimento. Na ocasião, ele disse que alguém teria usado uma cópia da chave para entrar no apartamento.
Pontes destacou que os legistas constataram que Isabella sofreu asfixia por esganadura e que ela tinha um ferimento na testa, sendo que nenhum desses ferimentos foi proveniente da queda que ela sofreu do 6º andar.
O juiz Maurício Fossen perguntou se podia dispensar Renata, mas o advogado de defesa do casal, Roberto Podval, disse que ela precisaria ficar à disposição da Justiça. A delegada não poderá deixar o Fórum pelo menos até os depoimentos dos peritos. Além da delegada, a mãe de Isabella, Ana Carolina Oliveira, que depôs nesta segunda-feira, também está à disposição da Justiça. O depoimento de Renata durou quatro horas e terminou às 14h10, quando os trabalhos do julgamento foram suspensos para almoço.
Defesa dos Nardoni gosta do depoimento da delegada
O advogado Marcelo Raffaini, auxiliar do advogado de defesa Roberto Podval, diz que o depoimento de Renata foi contraditório e que tem certeza que ela deixou dúvidas na cabeça dos jurados sobre o trabalho da polícia. Os advogados tentaram levantar essas contradições e expor aos jurados.
"Em determinado momento no relatório ela afirma que havia sangue de Isabella e o laudo não diz isso. O laudo de DNA não diz que havia sangue de Isabella. Isso ficou claro", diz Raffaini. "Ela teria justificado que essa informação lhe foi passada informalmente pelos peritos."
Os advogados de defesa alegam que a delegada prejudicou o casal Nardoni. Segundo os advogados, o relatório final preparado por ela não bate com os laudos da perícia.
A defesa também alega, por exemplo, que a delegada afirmou que a camisa de Alexandre tinha manchas de vômito de Isabella e o laudo da perícia não consegue atestar que se tratava de vômito da vítima. Portanto, segundo os advogados, a delegada não poderia afirmar que o pai carregou Isabella no colo depois de ser agredida.
Casal Nardoni
O pai de Isabella Alexandre Nardoni e a madrasta Anna Carolina Jatobá ficaram sentados lado a lado. Ela passou a maior parte dos dois depoimento de braços cruzados. Os dois vestem calça jeans. Ele está com uma camisa azul e branca. Ela, de blusa branca.
A madrasta chamou um dos advogados de defesa para conversar por pelo menos quatro vezes. Embora esteja sem algemas, Anna Carolina Jatobá levantou no intervalo com os braços para trás.
O juiz Maurício Fossen, do 1º Tribunal do Júri, que preside o julgamento, determinou que Alexandre e Anna Carolina Jatobá não se falem, nem mesmo durante os intervalos do julgamento.
Uso das maquetes
A Promotoria, responsável pela acusação do casal, usou duas vezes as maquetes do prédio e do apartamento do casal durante o depoimento da delegada Renata Pontes na manhã. Cada uma das maquetes tem pelo menos um metro quadrado e servem para mostrar aos jurados os locais onde foram encontradas manchas de sangue. Também servem para ilustrar a vizinhança no entorno do prédio, incluindo os imóveis vizinhos. A maquete do apartamento inclui até mesmo os móveis e como estavam dispostos no dia da morte da menina.
Durante o depoimento da delegada, o promotor Francisco Cembranelli pediu para a delegada levantasse e mostrasse em que cômodos havia gotas visíveis de sangue e o local da casa em que foi encontrada uma mancha de sangue com o uso de um reagente químico especial. Neste momento, os jurados ergueram-se sobre a bancada para melhor observar a maquete. Logo em seguida, a delegada Renata foi à outra maquete e esclareceu que, ao lado do prédio, havia uma unidade da corregedoria da PM e que foi deste minibatalhão que vieram os primeiros PMs a chegar no edifício London no dia do crime. Ela disse que não havia na casa aos fundos do prédio nenhuma escada ou objeto que pudesse facilitar a entrada de um estranho ao edifício.