Uma dona de casa contou à reportagem do Jornal Nacional nesta sexta-feira (8) que testemunhou o assassinato do menino Juan de Morais, de 11 anos durante uma operação da Polícia Militar na comunidade Danon, em Nova Iguaçu.
Com medo de represálias, os moradores vinham evitando os jornalistas há 18 dias. Mas nesta sexta, uma dona de casa decidiu contar o que viu na noite de 20 de junho. Ela diz que, de fato, havia um traficante no local.
"Primeiro eles mataram um bandido. Logo após o Juanzinho saiu correndo. Eles mataram o Juan e correram atrás do irmão do Juan. O que aconteceu, eles mataram o Juan, esconderam embaixo do sofá e 30 minutos depois eles foram, apanharam o Juan e jogaram dentro da viatura," conta a dona de casa.
O sofá a que se refere a testemunha tinha sido abandonado por um morador perto do beco onde Juan foi morto. De acordo com a versão dela, os policiais voltaram ao local do crime. "No dia seguinte, eles vieram e queimaram o sofá pra não ter provas," lembra ela.
O suposto traficante morto na ação era Igor de Souza Afonso, de 17 anos.
Dois vizinhos -- moradores de casas diferentes -- procuraram a equipe do Jornal Nacional para mostrar gravações de áudio. Segundo ambos, seriam tiros disparados na noite do dia 20.
Juan foi enterrado na quinta-feira (7) à noite sob forte esquema de segurança em um cemitério em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. A família está sob proteção da secretaria estadual de assistência e direitos humanos.
O corpo do menino foi encontrado na semana passada, perto de um rio, a 18 km de onde morava -- mas foi confundido por uma perita com o corpo de uma menina.
No rio, foi feita uma homenagem a Juan na praia de Copacabana. Na escola onde ele estudava, em Nova Iguaçu, os colegas de classe fizeram uma oração em memória ao menino.
Reconstituição
Nesta sexta, os principais acessos à comunidade Danon foram fechados para a reconstituição que começou por volta de 12h, sem os quatro policiais militares que afirmaram ter trocado tiros com um traficante na noite em que Juan desapareceu.
Uma das duas testemunhas feridas naquela noite chegou de cadeira de rodas. O jovem ficou o tempo todo com o rosto coberto para não ser identificado. De muletas, ele apontou para os investigadores alguns pontos no beco. Um saco plástico parecia marcar uma localização. Depois a testemunha mostrou aos policiais os ferimentos nas pernas.
Os peritos tentaram simular a movimentação que teria acontecido na hora do crime.
O advogado dos quatro policiais militares envolvidos no caso criticou a reconstituição. Segundo Edson Ferreira, a orientação dada aos clientes é que eles só participem se a simulação acontecer durante à noite, mesmo período em que Juan foi morto. "Os policiais têm todo direito deles de não participarem, é um direito constitucional deles. Mas se a reconstituição se der à noite, eles comparecerão e participarão do ato", informou. Os PMs alegam que não viram Juan, apenas o irmão dele.
O irmão de Juan, um menor de 14 anos, também ferido, foi convocado para participar da reconstituição mas não foi. Ele está no programa de proteção a testemunhas mas segundo os parentes ficou com receio de ficar frente a frente com os quatro PMs.
O delegado Ricardo Barbosa, responsável pelas investigações, disse que o trabalho iria durar a noite inteira. "É reconsituir as condições de acordo com os relatos de acordo com o que ocorreu no dia, então, a programação é periodo diurno tomadas fotográficas, questao do posicionamento, e no período noturno, nós temos a questão da visibilidade que vai ser abordada."
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