Tom e Téta mal sabem da novidade que está por vir. Daqui a 90 dias, a dupla de tigres do Zoológico de Curitiba poderá se esbaldar, correr, subir em troncos de árvores e até mergulhar numa piscina artificial em um espaço quase sete vezes maior daquele em que moram hoje. Os bichanos se mudarão de um “apartamento” de 63 metros quadrados em que vivem cada um para morar em uma “mansão” de 450.
Para professor, é necessário estimular o animal
O professor de medicina de animais selvagens da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Rogério Ribas Lange, afirma não é só o tamanho do recinto que pode ser usado como parâmetro para avaliar o bem estar do animal em um zoológico.
Leia a matéria completaAs obras já estão em andamento e os dois recintos custarão juntos cerca de R$ 120 mil. Dessa forma, Tom, de 350 Kg, e Téta, de 200 Kg, terão mais comodidade e habitarão um espaço com características mais próximas aos do habitat natural. Os novos espaços são tratados pelos próprios técnicos do Zoo como uma vitória. Apesar do atual recinto estar dentro do que prega a legislação – 70 metros quadrados para abrigar até duas espécies dos chamados “grandes” felinos – a bióloga do Zoológico Nancy Banevicius afirma que é uma obrigação dar um espaço maior aos felinos.
Cirurgia
A onça Angelina, de 60 quilos, passará por uma cirurgia no próximo dia 18 para a colocação de placa e parafuso de titânio no calcanhar. O procedimento será realizada mediante doação do Hospital Veterinário Santa Mônica. A tigresa não fica exposta ao público porque possui uma disritmia neurológica. Em abril, a onça passou por uma tomografia para analisar os ferimentos na perna.
Temperamental
Uma das onças-pintadas, a Angélica, já teve a oportunidades anos atrás de ocupar uma área de 385 metros quadrados – recinto que hoje é a moradia do leão Rawel, que chegou ao Zoo de Curitiba em 2014. No entanto, o médico veterinário do local, Manoel Lucas Javorouski, conta que a bichana não se adaptou. “Ela ficava escondida sempre no mesmo local. Sempre precisamos estar atentos às características de cada animal”, diz.
A bióloga Nancy Banevicius afirma que é por isso que todos os animais do Zoológico possuem nome. “A gente tem que tratá-los de forma individualizada. É necessário respeitar cada animal”.
“Temos a obrigação de fornecer a melhor qualidade de vida possível a eles”, diz. Segundo ela, o atual espaço, com cerca de 20 anos, nunca foi unanimidade entre os profissionais que atuam do Zoo. “O tratador dizia naquela época que o espaço não era próprio para os felinos”, conta Nancy. Ela torce para que os felinos se adaptem rapidamente ao novo lar. “A gente sempre busca resolver o que não está bom. E o espaço dos felinos sempre foi tratado por toda equipe como um local que precisava melhorar”, relata.
Demanda
Separados
Há uma norma do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) que não permite a reprodução de leões, onças e tigres em zoológicos. Por isso, os machos ficam separados das fêmeas.
Ela explica que a necessidade de uma área mais ampla aos bichanos também é uma demanda da sociedade. “Essa necessidade vai ao encontro também da nova visão sobre os zoológicos que não se limitam atualmente só ao caráter expositivo, mas principalmente em garantir o bem-estar animal e a sensibilização das pessoas em relação aos cuidados ambientais”, ressalta a bióloga.
Nancy afirma ainda que anos atrás não existia essa preocupação com o meio ambiente. “Era natural um felino grande habitar um recinto do tamanho que eles estão, mas os tempos mudaram e essa concepção também”, salienta.
Espaço
As onças-pintadas Angélica, Apolo, Ares e a arisca Maia também devem deixar os recintos de 63 metros quadrados em que moram cada uma delas. Já há um projeto para que cada uma se mude para um espaço de aproximadamente 200 metros. Os animais, que pesam uma média de 80 quilos, devem ganhar a nova casa a partir de 2016. Por enquanto, Nancy diz que há medidas paliativas. “Devem ser implantados mais passarelas e plataformas elevadas para que os animais possam circular em espaços diferentes”, relata.
Ao contrário da atual “casa” dos tigres, as onças não possuem tanque de água, característica que está prevista na legislação do Ibama. “Essa é outro ponto que pode ser feito até as onças terem o novo recinto”, comenta a bióloga.
Atual espaço não atende a todos as normas do Ibama
Os 63 metros quadrados em que atualmente moram os dois tigres e as quatro onças, apesar de aparentarem pequenos para parte dos visitantes, atendem à legislação do Ibama, que prevê um mínimo de 70 metros para cada casal dos grandes felinos. Há ainda proteção superior de 3 metros para impedir que os animais escalem a tela. Como os leões não escalam, a bióloga Nancy Banevicius afirma que este tipo de proteção não é necessário.
No entanto, algumas características não estão totalmente dentro do previsto pelas normativa do Ibama. Um exemplo é que o tanque de água, ou piscina, só está presente no recinto dos tigres.
A normativa do Ibama ainda recomenda piso de terra e grama nos espaços. “A gente coloca grama, mas os felinos arrancam”, explica Nancy. A existência de tocas, previstas pelo Ibama, também inexistem nos recintos.
“A Instrução Normativa nº 07/2015 prevê que o recinto deve ter piso de terra com grama ou outra vegetação rasteira e disposição de troncos e tocas”, pontua o superintendente substituto do Ibama no Paraná, Vinicius Carlos Freire.
Segurança
Em relação à segurança, o Zoo de Curitiba atende às recomendações vigentes. Segundo Freire, os ambientes onde são alocados os grandes felinos precisam ter corredor de segurança para que, na ocorrência de fuga, o animal fique no corredor e ainda devem dispor de barreiras para garantir afastamento do público (como guarda-corpo, fosso, vidro, acrílico, etc.). “O corredor de segurança e o afastamento mínimo do público servem para evitar o contato físico de pessoas aos animais e evitar acidentes com as pessoas e perturbações ou danos aos animais”, explica.
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