Por 16 anos, a vida de Mauri de Vitte se restringiu aos limites de uma cela da Penitenciária Central do Estado. Quando ganhou direito de passar ao semiaberto, tinha apenas uma certeza: queria mudar de vida, deixar o crime para trás. O trabalho por detrás dos muros do complexo penal foi o que engatilhou essa mudança. O preso foi recrutado para trabalhar na Eco Produção, indústria que mantém um canteiro na Colônia Penal Agroindustrial do Paraná (CPAI). Três anos depois, já no regime aberto, Vitte foi contratado pela empresa. Hoje, continua trabalhando no presídio, orientando outros detentos.
“Eu tinha o intuito de me afastar do crime, de buscar minha reintegração à sociedade. Essa oportunidade foi o que possibilitou que minha vida mudasse. O trabalho que consolidou isso e me libertou”, diz, aos 44 anos. “Faz três anos que tenho carteira assinada, tudo bonitinho”, orgulha-se.
Assim como Vitte, cerca de outros 500 presos que cumprem pena na Colônia Penal também têm a oportunidade de trabalhar em uma das 30 indústrias que mantém convênio com a unidade, em um sistema considerado modelo para o resto do estado. Doze dessas empresas estão instaladas na própria colônia penal. Elas são atraídas por alguns benefícios, entre os quais ficar livre de pagar encargos trabalhistas. Também não pagam aluguel do espaço.
Indústrias em presídio oferecem trabalho para presos
Cerca de 500 detentos do regime semiaberto, que cumprem pena na Colônia Penal Agroindustrial do Paraná têm a oportunidade de aprender e exercer um ofício em canteiros de trabalho mantidos por empresas dentro da penitenciária.
+ VÍDEOSOs canteiros de trabalho não lembram, nem de longe, uma penitenciária. Não há grades, correntes ou algemas. Os presos operam máquinas industriais e ferramentas normalmente. Focados, parecem querer agarrar a oportunidade oferecida. Isso se traduz em produtividade. A BMV, uma fábrica de puxadores, por exemplo, acabou de ampliar o convênio em 20%, chegando a 35 detentos empregados.
“Eles rendem, no mínimo, o dobro do pessoal lá de fora. Em três anos aqui, nunca tive problema com ninguém”, fala Danilton Dalas, gerente da Tracz, indústria que produz portas de segurança.
Salário e abatimento de pena
Os presos recebem 75% do valor de um salário mínimo e, a cada três dias de trabalho, abatem um da pena. O salário deve ser destinado a indenizar danos causados pelo crime, à assistência da família, a pequenas despesas pessoais e a ressarcimento de despesas do Estado. O restante é depositado numa espécie de “poupança” para quando o preso sai.
Não é só. Para a maioria, esta é a oportunidade de aprender um novo ofício, o que permitirá começar vida nova do lado de fora. Recebem, inclusive, treinamento gratuito para operar o maquinário.
“Todos ganham neste processo. As empresas, que contratam mão de obra produtiva e mais barata; a própria unidade, que tira esses presos da ociosidade; e o preso, que aprende uma profissão e tem oportunidade de diminuir a pena”, resume o diretor da Colônia Penal, Ismael Meira.