Prédio em que Japonês foi morto: família contesta versão da polícia| Foto: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo

Morto em confronto com a polícia no último dia 4, o soldador desempregado Hirosshe de Assis Eda era acusado de deixar um rastro de sangue na sua ambição de controlar o tráfico de drogas na região central de Curitiba. Entre 2002 e 2004 ele já havia ficado preso no Japão pelo mesmo motivo, e voltou para a prisão, desta vez em Curitiba, ao ser flagrado vendendo entorpecentes na Travessa Nestor de Castro, em 16 de outubro de 2007. Coube ao pai, o imigrante japonês Hiroshe Eda, a missão de trasladar o corpo para Boa Vista (RR), onde o filho nasceu. "Ele não era agressivo. Por onde eu andei, ele era benquisto no Paraná", garante.

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O imigrante lança dúvidas sobre a versão policial sobre a morte de Hirosshe, o primogênito de cinco filhos (quatro homens e uma mulher). "Ele não pode ter atirado porque estava debaixo da cama. Bala não faz curva", argumenta. Um dos irmãos costumava mandar dinheiro para ajudá-los nas despesas em Curitiba. O pai conversou pela última com ele por telefone no dia do aniversário do filho, 23 de maio. "Não, pai, estou bem, não precisa se preocupar", foi o que disse. Não concluiu o segundo grau e aos 17 anos teve dois filhos ao mesmo tempo com duas namoradas. Ao todo, teve cinco filhos de quatro mulheres diferentes.

A morte dele encerrou de forma trágica um vínculo de sete anos do imigrante Hiroshe Eda com o Paraná. Ele migrou para o Brasil em 1954, aos seis anos de idade. A família chegou em Boa Vista, 34 anos antes de Roraima passar de território federal a estado. Hiroshe tinha uma pequena empresa até ir à falência por causa do Plano Collor, no início da década de 1990. A alternativa foi voltar para o Japão, trabalhar e se capitalizar. Ficou lá seis anos, mas tinha de voltar a cada dois anos para revalidar o visto de permanência no Brasil. A cada retorno alguém da família o acompanhava. Porém, uma fatalidade marcaria a vida de todos.

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Em 18 de maio de 2002, um dos filhos sofreu um acidente de carro em Nagoia. De volta ao Brasil, este filho buscou tratamento em Curitiba, onde sua noiva morava. Hiroshe ficou com ele na capital do Paraná até o fim da internação, em 2007, não sem novos problemas. Em Boa Vista, o filho do meio foi sequestrado e teve o carro roubado. Em Curitiba, o pai passou por um sequestro-relâmpago. Ficou quatro horas rodando a esmo num carro. Argumentou com o sequestrador que cuidava do filho deficiente. Não adiantou. Sob a mira de um revólver, foi forçado a fazer dois saques de R$ 5 mil cada em agências diferentes.

Nesse meio tempo, Hirosshe, o filho, veio para Curitiba em 2004, logo que saiu da prisão no Japão, para onde tinha ido em 1999. Prometeu à mãe que não iria mais se envolver com drogas e viajou a Curitiba para ajudar o pai a cuidar do irmão. Envolveu-se com viciados e logo teve uma recaída. Quando foi preso, o pai já havia retornado a Boa Vista. "O advogado ligava pedindo dinheiro, mas eu não tinha mais o que vender", diz. No período em que esteve em Curitiba, teve todo o material da metalúrgica furtado. Hiroshe precisou da ajuda de amigos para as despesas do traslado do corpo do filho.