A educadora Tânia Márcia Bagnara, 27 anos, tem um sonho. Ver o projeto político do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST) concretizado. "É um sonho bonito", diz a jovem. Ela tem feito a sua parte – como educadora.

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Há sete anos, Tânia abandonou a propriedade dos pais, que são pequenos agricultores em Francisco Beltrão, no Sudoeste do Paraná, e fincou os pés onde é hoje o Assentamento Contestado, na Lapa, no qual moram cerca de 150 famílias. Ali, em parceria com outra professora – com a qual já chegou a dividir o próprio salário – educa 48 crianças de 1.ª a 4.ª série.

A escola, que recebeu o mesmo nome do assentamento, funciona numa casa improvisada e pertence à rede de ensino lapeana. Tudo muito modesto, mas nada que impeça Tânia de afinar sua prática com os propalados paradigmas da educação contemporânea. "Quando eles vão para a escola de 5.ª a 8.ª, os professores nos contam que nossas crianças são críticas, que se expressam. A gente se enche de orgulho."

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Feitiço da vila

A Escola Municipal Osvaldo Arns, na Vila Evangélica, Tatuquara, fica numa rua sem pavimentação, com poucos espaços de lazer, povoada por famílias de baixa renda e problemas sociais a rodo. É fato que alguns professores se benzem quando se descobrem nomeados para regiões assim. Para outros, o cenário não poderia ser mais estimulante. Foi o caso da mineira Elza Gonçalves dos Santos, 63 anos, há três no Osvaldo Arns.

A carreira de Elza seguiu por linhas tortas. Educadora de formação, abandonou o magistério durante 15 anos, tempo em que morou em Brasília. Até que a aposentadoria do marido e a mudança para Curitiba abalaram suas certezas. Fez um concurso público e se viu praticamente enviada para a distante Vila Evangélica. Quem deve ter se benzido ao vê-la chegar foi a diretora Giselda Martins Fadanni, 51 anos. Elza era o que procurava para tirar da gaveta um antigo projeto.

Falante, cativante e "com jeitinho de avó", a novata-veterana servia feito uma luva para fazer deslanchar o programa de prevenção às drogas junto a crianças de 1.ª a 4.ª. "Parece cedo demais. Mas tudo o que se ouve nessa idade, fica", diz Giselda. Elza topou na hora e a dupla se lançou em sua missão impossível – encontrar material para falar de um assunto tão delicado com uma gurizada mal saída das fraldas.

"Ela enfeitiça. A gente entra na sala e as crianças estão com os olhos grudados nela", diz a diretora, sobre a mulher que transforma em boas histórias sua fala sobre cigarro, medicamentos, alcoolismo, maconha, inalantes e solventes, cocaína e crack. A clientela, que parece mais preocupada em jogar bola e assistir a desenho animado, se rende. "Eu enfatizo o lado bom de não usar drogas. É uma boa maneira de prevenir. Daqui a pouco, a turma que peguei no pré deve estar na 4.ª série. Vou poder ver o resultado da minha experiência", planeja. Quanto aos 15 anos fora da sala de aula, ela admite: "Foi uma pena".

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Tempo integral

A rota Curitiba – Matinhos é caminho da roça para os professores aposentados Placidina Conceição, 62 anos, e Paulo Osni Wendt, 66. Ambos fizeram carreira no Colégio Estadual do Paraná, de onde se despediram há pouco mais de uma década. O magistério, para o casal, continuou de uma maneira no mínimo curiosa: eles se tornaram ecologistas com dedicação exclusiva. É simples. No porta-malas do carro em que estão os apetrechos para abastecer a casa da praia vão também sementes e mudas de árvores, em especial o pinheiro-do-paraná. Serra abaixo, eles param para plantar, marcam o ponto de memória e retornam tempos depois para ver se vingou.

O pinheiro plantado no Colégio Estadual completou 16 anos em julho passado. Passa bem. É há o caso da Praça Afonso Botelho, a Praça do Atlético, na Água Verde, onde os professores cultivam um pinheiro e o defendem como um filho temporão. "Já plantamos uma dezena. Todos arrancados. Esse, agora, está mais crescidinho. Vigio da janela do meu apartamento. Quando não chove, vou até lá com uma garrafa de água para regá-lo", explica Placi.

Além do disciplinador que fazia os alunos tremerem na base, Osni faz parte da história curitibana. Seu pai, Paulo Wendt, o "Rei da Noite", era dono da Boate Marrocos, na Marechal Deodoro com a Dr. Muricy, a casa de diversão mais importante da cidade nos anos 50 e 60, citada na obra de Dalton Trevisan.

Osni não quis continuar o reinado do pai e cursou nada menos do que quatro graduações – Filosofia, Letras, Economia e Sociologia, especializando-se em Ciências Políticas e Administração Pública. Longe da sala de aula, encontrou uma saída criativa para continuar fazendo diferença, em parceria com a mulher e colega de ofício Placidina.

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