Prossegue em Paranaguá, no litoral do estado, o julgamento dos marinheiros acusados de jogar no mar o camaronês Wilfred Happy Ondobo, que embarcou clandestinamente no navio de bandeira maltesa Seref Kuru. O tribunal de júri federal, que ocorre pela primeira vez na cidade e pela quinta vez no Paraná, pode ter uma decisão sobre o caso ainda nesta terça-feira (13), de acordo com informações da Justiça Federal. O júri popular é composto por sete jurados escolhidos por sorteio.
O julgamento foi retomado durante a manhã, quando começaram a ser ouvidos os réus. Todos os cinco acusados negaram ter tido contato com o camaronês. Eles foram unânimes em dizer que viram Ondobo pela primeira vez nas audiências realizadas pela Justiça.
Já no início da tarde, o último dos marinheiros a prestar depoimento foi Orhan Satilmis, único tripulante a ser acusado também pelos crimes de tortura e racismo. Sobre estas acusações, Orhan disse que isso pode ser interpretado pela posição que ocupa no navio, uma vez que é um dos responsáveis pela entrada de pessoas na embarcação e, por isso, tem de ser rigoroso na liberação de quem ingressa no navio. Ele disse que é muçulmano e defendeu que sua religião respeita todas as raças. Ele também afirmou que já trabalhou em navio africano por dois anos.
Após o depoimento de Satilmis, o juiz suspendeu o julgamento para o almoço. A sessão estão prevista para ser retomada às 15h, com os debates entre o Ministério Público e a defesa.
Em entrevista à Gazeta do Povo, o advogado Giordano Vilarinho Reinert, responsável pela defesa dos tripulantes, disse que a principal tese da defesa é de que os marinheiros não viram Ondobo no navio e que o camaronês apresenta versões muito confusas e contraditórias. "Ele apresentou quatro versões sobre a mesma história. É um clandestino profissional. Além disso, não há nenhuma prova ou testemunha que diga que houve agressão física.", disse Giordano. O advogado disse ainda que existem outras teses importantes, mas falará sobre elas apenas nos debates que ocorrem nesta tarde.
Entenda o caso
No final de junho, o navio Seref Kuru, administrado por um armador da Turquia, foi retido no porto de Paranaguá, após o MPF receber a denúncia de que um camaronês que viajava clandestinamente na embarcação teria sido lançado ao mar pelos tripulantes, a cerca de 15 km da costa brasileira. Todos os 19 integrantes da tripulação foram desembarcados e mantidos sob liberdade vigiada, proibidos de deixar a cidade de Paranaguá.
No inicio de agosto, o navio deixou o porto com nova tripulação, vinda da Turquia. No mesmo mês, a Justiça liberou 13 tripulantes e aceitou denúncia contra os marinheiros Ihsan Sonmezocak, Mamuka Kirkitadze, Zafer Yildirim e Ramzan Ozdamar por tentativa de homícidio. O imediato Satilmis também responde pelas acusações de prática de racismo e tortura.