Quando viaturas da Polícia Federal chegaram ao prédio da reitoria da Universidade Federal do Paraná (UFPR) para fazer a busca e apreensão de documentos, bem cedinho na manhã de quarta-feira (15), ganhou materialidade o buchicho que percorria corredores e gabinetes desde os últimos meses do ano passado. Àquela altura, já se sabia que duas servidoras que exerciam cargos de confiança na Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação – Conceição Abadia de Abreu Mendonça e Tânia Marcia Catapan – haviam sido afastadas das funções. Um alerta também havia sido emitido numa reunião com sete dezenas de coordenadores de cursos, informando que desvios no pagamento de bolsas a pesquisadores tinham sido detectados.
Diante do falatório que se espalhara por boa parte da UFPR, a da Operação Research (pesquisa, em inglês), da Polícia Federal, não chegou a ser uma surpresa absoluta. Mas ainda assim “abalou as estruturas” da instituição. Para explicar o que se sucedeu nos últimos dias, a Gazeta do Povo preparou um resumo do esquema que desviou R$ 7,3 milhões que deveriam ter sido aplicados em pesquisa. Contudo, permanecem algumas dúvidas. Confira:
O que aconteceu?
29 pessoas foram presas, acusadas de desviar recursos públicos destinados a auxiliar estudantes e pesquisadores. Duas delas eram servidoras da UFPR e a as demais aparecem como beneficiárias dos pagamentos irregulares, que começaram em 2013 e foram até outubro de 2016.
Quem foi preso?
Além das duas funcionárias que, de alguma forma, tinham acesso a documentos que permitiram a operacionalização do esquema, uma lista de pessoas sem qualquer ligação com a UFPR foi incluída como beneficiários dos recursos. Não são professores ou estudantes – muito menos pesquisadores, já que não tinham currículo cadastrado na Plataforma Lattes. Entre as profissões dos beneficiários estão taxista, artesão, cabeleireiro, etc. Alguns sequer concluíram o ensino fundamental.
Quanto foi desviado?
Os pagamentos irregulares somam, até o momento, R$ 7,3 milhões. O valor representa 6% de tudo o que foi gasto com auxílio a pesquisa na UFPR no período de quatro anos. Alguns dos citados negam que tenham feito pesquisas, vivem em condições precárias ou alegam que receberam, via depósito, por serviços prestados ou produtos vendidos para as funcionárias da UFPR.
Como o dinheiro foi desviado?
Conceição Abadia de Abreu Mendonça era a funcionária responsável por gerenciar o orçamento do setor de pesquisa da UFPR. Ela que encaminhava ao banco as ordens de pagamento. Ainda está sendo apurado se outras pessoas em cargos de comando, que aprovaram os pagamentos, participaram do esquema ou tiveram algum tipo de responsabilidade, como omissão e negligência.
A direção da UFPR sabia?
A instituição informou que foi alertada sobre os desvios pelo Tribunal de Contas da União (TCU) em novembro de 2016 e que rapidamente comunicou a Polícia Federal para a investigação do caso. Também foi aberto processo administrativo para apurar responsabilidades e as duas funcionárias foram afastadas dos cargos.
Os sistemas de controles foram ineficientes?
Tanto o TCU quanto a Polícia Federal destacaram quão simplória foi a fraude, chamada de “grosseira”. A atual gestão da UFPR reconheceu que os sistemas de controle foram insuficientes e a gestão anterior admitiu que foram frágeis, embora ambas destaquem que o esquema foi possível graças a brechas descobertas por pessoas que abusaram dos cargos de confiança e conheciam profundamente os mecanismos de controle.
O que vai ser feito para impedir novos desvios?
Além de criar um comitê de governança para gerenciar as bolsas de auxílio a pesquisadores, a UFPR se comprometeu a aprimorar os instrumentos de controle e fiscalização dos recursos, bem como a comprovação do vínculo com a instituição e do trabalho realizado. Também estratégias de transparência, para facilitar o acompanhamento dos gastos e a checagem dos CPFs dos destinatários, devem ser apresentadas.
Será possível recuperar esse dinheiro?
Ainda não se sabe aonde foi parar os R$ 7,3 milhões desviados da UFPR. A Polícia Federal bloqueou R$ 200 mil em contas bancárias e cinco carros avaliados em outros R$ 200 mil. A busca por patrimônio e outros tipos de bens continua. O ressarcimento dos recursos é uma das bandeiras da UFPR, que no momento tenta mostrar que foi vítima de ação criminosa e isolada.