| Foto: RICARDO MORAES/REUTERS

Enquanto permanece indefinido o destino dos atingidos pelo rompimento das barragens de rejeitos da mineradora Samarco, em Minas Gerais, as pousadas do centro histórico da cidade de Mariana se desdobram para enfrentar uma mudança radical na rotina, afastando os turistas para dar lugar aos mais de 580 desabrigados.

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Nos corredores, nas recepções, nos quartos e até mesmo nas ruas circulam inúmeras vítimas do desastre, que recebem a todo momento visitantes como psicólogos, assistentes sociais e médicos, enviados pela empresa, além de voluntários, equipes da defesa civil e até mesmo palhaços.

Até o momento, duas mortes foram confirmadas pelas autoridades como resultado da tragédia e mais dois corpos foram encontrados, mas ainda não foram confirmados pelos bombeiros como de vítimas do incidente. O número de desaparecidos está em 25.

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As despesas de hospedagem dos desabrigados são pagas pela Samarco, mas paira uma indefinição entre gerentes das pousadas: até quando a empresa vai abrigar tantos hóspedes.

“Talvez a gente tenha que cancelar as reservas que já estão feitas por clientes. A prioridade são os desalojados”, afirmou a gerente da Pousada Rainha dos Anjos, Mayara Freitas, de 26 anos.

Na pousada estão hospedadas 36 pessoas, de 12 famílias que foram expulsas de suas casas pela onda de lama de rejeitos de mineração, depois do colapso das barragens na quinta-feira.

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Segundo a gerente, a rotina da pousada mudou completamente, principalmente pela quantidade de pessoas que entram e saem do local. “Nosso regulamento no funcionamento normal não permite, mas estamos com acesso livre”, afirmou Mayara.

“Desde o dia do ocorrido, temos trabalhado complemente fora de nossa rotina comum, hoje por exemplo não é meu dia habitual de trabalho, mas estou aqui. O interesse maior é dar suporte”, acrescentou.

Na mesma rua, o Hotel Providência, um dos maiores da cidade, está hospedando 130 desabrigados e servindo cerca de 180 refeições por dia, segundo o gerente Antonio Diniz.

O prédio, que foi construído em 1849 originalmente para receber missionárias a pedido de um bispo da cidade que dava assistência a necessitados, parece ter voltado às origens. Ao entrar pela porta principal, há pessoas circulando para todos os lados. Uma capela, que fica logo atrás da recepção, está tomada por doações, onde crianças brincam.

O movimento é tão grande que foi preciso instalar voluntários na porta de entrada para cadastrar pessoas e evitar uma quantidade muito grande de visitantes no interior dos quartos.

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“Vamos começar agora a etiquetar os visitantes, como fazem nos hospitais, para ter um maior controle”, afirmou o gerente do hotel Antonio Diniz, que também está preocupado com diversas reservas feitas antes da tragédia por clientes comuns.

Luta pela sobrevivência

Nas rodas de conversas dos desabrigados, que circulam ainda sem rumo pelas instalações das pousadas e pelas ruas no entorno, o assunto é apenas um: histórias heróicas e de luta por sobrevivência, que aconteceram durante os 15 minutos que os habitantes tiveram para deixar suas casas para trás enquanto uma avalanche formada por água e restos de minério de ferro deslizava para alcançá-los.

Questionadas, vítimas explicam que não sabiam que havia um risco tão grande e que a Samarco, uma joint venture da maior mineradora do mundo, a BHP, e a maior mineradora global de minério de ferro, a Vale, não tinham um plano de retirada dos moradores da cidade para casos de uma emergência como essa.

“Eles falavam que não tinha chance da barragem arrebentar, nunca soubemos que isso podia acontecer. Eles faziam monitoramentos, quantas pessoas tinham... mas nunca teve plano de alerta, para explicar como a gente tinha que agir no caso de ter um desastre. O povo foi salvo pelo povo”, afirmou o ajudante Gilberto Pereira da Silva, de 32 anos.

Um promotor público estadual, baseado em Mariana, afirmou no sábado que vai buscar 500 mil reais em danos pessoais para cada uma das cerca de 200 famílias mais afetadas pelo desastre.

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