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O Instituto Médico Legal (IML) afastou neste ano quatro policiais militares membros da intervenção feita no órgão. Eles seguem sendo investigados e, em razão disso, os nomes não foram divulgados. Dois deles foram retirados na sexta-feira (27) em razão da denúncia da Gazeta do Povo sobre o agenciamento de funerárias por funcionários do órgão. Os outros dois são suspeitos de furtar objetos de mortos em meados de janeiro.

Até o início de 2008, o IML era comandado por pessoas vinculadas à Polícia Civil. Em uma ação repentina, em 25 de fevereiro do ano passado, uma junta militar comandada pelo coronel Almir Porcides Junior, com mais quatro oficiais, assumiu a direção do IML por tempo indeterminado. Os PMs têm como objetivo de "moralizar" a instituição, segundo palavras do secretario da Segurança Pública, Luiz Fernando Delazari, dadas em nota.

Desde então, uma série de irregularidades foram sendo divulgadas ao longo de 2008, sem nunca acusar membros da intervenção, que ampliaram a influência no órgão até a área do plantão, que lida com o atendimento ao público. Atualmente, a maioria dos plantonistas são soldados.

Além disso, a Secretaria de Segurança Pública do Paraná (Sesp) afirmou em nota divulgada no domingo (1º) que qualquer irregularidade no IML é "imediatamente" repassada para "apuração da Polícia Civil" desde que a intervenção no órgão foi instalada. O Núcleo de Repressão aos Crimes Econômicos (Nurce) - que tradicionalmente investiga as irregularidades na instituição - não abriu nenhum inquérito para investigar irregularidades no IML neste ano até a tarde desta terça-feira (3). A assessoria de imprensa da Sesp foi procurada para esclarecer onde estariam sendo supostamente investigadas as irregularidades, mas não obteve retorno.

Os primeiros afastamentos deste ano se deram na segunda semana de janeiro. Dois soldados da PM teriam furtado objetos de corpos enviados ao IML. Um deles é suspeito de subtrair pequena quantidade de drogas. Outro é investigado pelo desaparecimento de R$ 540. Atualmente, ambos estão lotados no quartel geral da PM fazendo o controle de entrada no pátio do imóvel.

De acordo com um funcionário do IML, o local para guardar os objetos dos corpos é precário. "Fica tudo jogado em uma gaveta sem tranca. Qualquer um pode ter pego", afirmou.

Agenciamento

Na sexta-feira (27), após denúncia da Gazeta do Povo, dois funcionários foram afastados por agenciar uma funerária. A reportagem foi alvo de uma tentativa de agenciamento de um funcionário do IML, que buscava familiares de falecidos para levar até uma determinada empresa. Pessoas envolvidas na negociação tentaram convencer o repórter a não passar pelo Serviço Funerário Municipal da prefeitura de Curitiba.

Questionada na segunda-feira (2), a prefeitura de Curitiba evitou se posicionar de maneira claro sobre o tema. O novo diretor do Departamento de Serviços Especiais da prefeitura, Augusto Canto Neto, disse apenas que pretende obter informações a respeito do assunto.

O ano que não acabou

O primeiro escândalo no IML desde o início da intervenção se deu em março, quando dois motoristas do instituto foram presos suspeitos de cobrar indevidamente para liberar corpos. Paulo Marcos Tissot, 36 anos, e Marcos José Camargo, 31, teriam exigido R$ 600 de uma família para transportar o corpo de uma mulher direto a uma funerária, sem precisar passar por perícia no IML. Os dois teriam aterrorizado os familiares, afirmando que o procedimento proposto por eles seria mais simples, pois no IML o corpo da mulher teria que ser "todo aberto".

Em abril, o papiloscopista do IML João Alcione Cavalli foi preso acusado de vender o corpo de um indigente. Segundo a polícia, o comprador teria usado o cadáver para forjar a própria morte e aplicar um golpe no qual receberia US$ 1,6 milhão da seguradora norte-americana New York Life Insurance. Cavalli, 47 anos, ficaria com R$ 30 mil para atribuir ao indigente a identidade de Mércio Eliano Barbosa, 28 anos.

O mesmo funcionário teria auxiliado em outros casos semelhantes de simulação de óbito para o recebimento de seguro de vida. Odilon Lopes, de 61 anos, também teria forjado a própria morte em junho de 2007, utilizando um corpo que seria de Antônio de Souza, vítima de um atropelamento no dia 16 de maio de 2007. Em junho deste ano, mais três pessoas foram presas acusadas de participar do esquema.

Mas o caso de maior repercussão do ano passado foi o da médica Lubomira Veronika Oliva, acusada de retirar órgãos e tecidos de corpos no IML. A suspeita foi presa em flagrante, de posse de vários órgãos no porta-malas do carro no dia 17 de julho de 2008. Ela foi indiciada no inquérito policial 021/2008 do Nurce pelo crime. De acordo com o delegado Robson Barreto, a investigação foi repassada ao Ministério Público no dia 9 de janeiro.

A intervenção do Governo do Estado sobre o IML, iniciada em fevereiro do ano passado, foi justificada pela falta de infraestrutura e de pessoal. A troca de comando se deu em período que o Ministério da Justiça apontava números crescentes de violência em Curitiba no Mapa da Violência. Entre as dez capitais mais violentas do país, a capital paranaense teve o segundo maior crescimento na taxa de homicídios. Entre 2002 e 2006, conforme o estudo da Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana (Ritla), a capital paranaense teve aumento de 53,1% nesse tipo de crime.

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