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Um espaço afetivo

Evitar certas ruas acabou virando uma cultura da Vila Torres. É o caso do jogador de futebol Wagner Eliandro dos Santos, 30 anos, há cinco entre idas e vindas na vila, onde mora sua mulher, "vileira convicta". "Por causa dela eu acabei me aproximando do pessoal. Gosto daqui. Um dia com­­binamos: nunca nos fizeram nada, mas decidimos respeitar os limites entre as áreas", comenta.

Wagner faz parte da galeria de personagens impressionantes das Torres. Natural de Paranaguá, despontou ainda piá nos times de futebol da capital. Do Paraná Clube partiu para uma carreira internacional, tendo jogado na França, Por­­tugal, Suíça, Uruguai e, mais re­­centemente, no Vietnã. A pergunta que mais lhe fazem é "o que está fazendo ali" – onde é dono de uma sala de jogos frequentada por adolescentes, e na qual não se vende bebida alcoólica. Tornou-se uma espécie de ídolo da garotada, que o metralha de perguntas sobre os países onde viveu e sobre a vida de futebolista.

Wagner, como de todo o resto, é um sinal da nova Vila das Torres que pode estar aparecendo por aí. Se o pacto de paz entre as gangues vingar, não causa espanto que outras pessoas como ele escolham o local para viver ou trabalhar. Não se trata de fantasia. Das 254 áreas favelizadas de Curitiba é, com folga, a mais visitada por pesquisadores e a mais lembrada quando se fala no drama da sub-habitação, ainda que tenha apenas 10% da população – 800 pessoas – em situação irregular.

Basta dizer que artistas, urbanistas e ambientalistas, em outros tempos, elegeram a Torres como espaço urbano afetivo. É o caso do arquiteto e designer José Marcos Nowak, que chegou a ter escritório numa das ladeiras da Avenida Mariano Torres; dos cineastas Luciano Coelho e Marcelo Muñoz e do procurador de Justiça Saint-Clair Honorato dos Santos, que tem na vila uma de suas causas. A aproximação de novos parceiros só não é maior porque vez ou outra o campo de futebol fica vazio. Já se sabe. E não se fala mais nisso.

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