Com forte presença dos estudantes e funcionários, o professor Roberto Leher tomou posse como reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), nesta sexta-feira, sob aplausos. O novo reitor voltou a criticar o investimento do Ministério da Educação (MEC) nas instituições privadas, com o ProUni e o Fies, e afirmou que as universidades públicas poderiam gerar o dobro de vagas do programa de Financiamento, caso recebessem os mesmos recursos. Ele garantiu um “governo compartilhado” da instituição, defendeu a autonomia da UFRJ em relação ao Governo Federal e afirmou que fará uma gestão alinhada aos movimentos sociais.
“Precisamos chegar em um momento no país em que o estado brasileiro tem que fazer uma opção sobre seu projeto de futuro. É preciso que em um determinado momento seja feita uma política de transição. Com R$13,5 bilhões teríamos criado um número muito maior de vagas do que estão sendo alocadas no Fies”, argumentou o reitor, lembrando a necessidade de garantir o cumprimento dos contratos de financiamento já vigentes. “Com esse orçamento poderíamos em um espaço curtíssimo de tempo, seguramente, dobrar o número de vagas. Se o investimento entre em 2007 e 2014 nas federais foi de R$ 9 bi criamos aproximadamente 600 mil vagas, agora em um ano há R$ 13,5 bi para o Fies. Com uma ordem de grandeza dessa, em um espaço de cinco anos estaríamos ofertando um número maior de matrículas que o sistema Fies. E não teríamos dúvidas que seriam vagas em instituições muito mais comprometidas com o conceito de formação integral e com as atividades de ensino, pesquisa e extensão”, disse.
Durante a posse, o novo reitor recebeu de presente um boné do MST e duas pautas de reivindicação grevista. Em consonância com os movimentos sociais, também fez referência aos membros da comunidade acadêmica perseguidos durante a ditadura militar e garantiu colaboração da universidade com a Comissão da Verdade. Nesse contexto, Leher comunicou que pretende levar ao Conselho Universitário (Consuni) uma proposta para revogar o título de doutor honoris causa concedido pela UFRJ ao ex-presidente Emílio Garrastazu Médici durante a década de 70.
“Entendemos que essa honraria não pode ser dada a pessoas que afrontaram os direitos humanos”, disse.
O tema da terceirização também ganhou espaço na posse de Leher. O reitor se referiu aos funcionários terceirizados como parte da comunidade acadêmica e defendeu a necessidade de alterar o cenário atual na UFRJ. Segundo ele, a realização de concursos temporários para atividades de limpeza e segurança, por exemplo, poderia render economia de recursos à instituição.
“O ministério da educação deve reabrir cargos que foram extintos para os quais não é mais possível realizar concurso público. Enquanto isso não for conquistado, a ideia é realizar concursos pelo regime CLT como contratação temporária. Queremos um contrato mais racional de uso da força de trabalho dos terceirizados para tentar economizar nos gastos com a folha, mas, ainda assim, essas economias não seriam capazes de suprir o déficit estrutural da universidade, que hoje ultrapassa 115 milhões”, explicou ele dizendo ainda que no dia 14, em reunião com o MEC, discutirá sobre os cortes.
O reitor, que assume em um contexto de crise, negou que a greve dos três segmentos seja um problema. De acordo com ele, a postura dos professores, estudantes e funcionários é um sinal de que a universidade se mantém “viva”.
“A nosso ver isso é uma demonstração de vitalidade. A minha maior preocupação não seria nunca uma greve. Seria uma universidade acomodada e adaptada, que abandona o sonho de ser uma universidade melhor. Só podemos nos orgulhar dos nossos estudantes e da nossa comunidade universitária que recusa a degradação da instituição”, disse.
Peça importante na eleição de Roberto Leher, os estudantes contam que estão preparados para um cenário adverso, mas esperam que o reitor eleito assuma uma postura de cobrança em relação ao Governo Federal.
“É um momento muito marcante, a campanha do Leher foi a única que se colocou a ouvir a demanda dos estudantes e construiu seu programa em conjunto. É um momento positivo de dar um passo a frente, mas, por outro lado, essa reitoria assume em um momento muito difícil de crise e cortes anunciados. A gente é muito cético para acreditar que só um novo reitor vai resolver tudo, entendemos que uma instituição federal depende do MEC e, por isso, a gente espera que a reitoria se coloque ao lado do movimento grevista para exigir que seja repassado mais verba. A gente não acredita em milagre na UFRJ, é necessário uma postura de cobrança em relação ao Governo Federal”, afirmou Luiza Foltran, membro do DCE da universidade.
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